sexta-feira, outubro 31, 2008

Diante dos seculares se falle sempre em cousas de edificaçaõ, que causem horror, ou façam devoçaõ, confundindo-os com modestia

Escarafunchando na Biblioteca Nacional no volume das Obras Espirituais de Frei António das Chagas, edição de 1725 (cota R31349P), encontrei uma deliciosa instrução para missionários, que infelizmente o fundador do Seminário do Varatojo não chegou a terminar. Eis um excerto, para aguçar o apetite para eventual publicação em breve.
Em todo o tempo fujaõ como do demonio de dizer galantarias, & ociosidades, naõ só porque, como diz Christo, de toda a palavra ociosa se ha de dar conta em juizo, senaõ porque, como diz S. Bernardo, as zombarias, que nos seculares saõ galantarias, na boca dos Sacerdotes saõ blasfemias. Diante dos seculares se falle sempre em cousas de edificaçaõ, que causem horror, ou façam devoçaõ, confundindo-os com modestia, que deve ser manifesta a todos; & com santa mortificaçaõ de olhos baixos, maõs cruzadas, como quietos, & sem movimentos; porque destas vistas ficaõ reprehendidos, & interiormente edificados. Muitas pessoas de vida estragada, & dissoluta se moveraõ à penitencia, & à confissaõ, vendo sómente a Saõ Pedro de Alcantara, & a meu Padre Saõ Francisco, a Santa Catharina de Sena, & outros Santos; & tem notavel força a compostura exterior dos Servos de Deos para a conversaõ dos peccadores: alèm de que he ordinario sinal da presença de Deos, & compostura interior.

Bandeirada


Voltou à carga um dos blogues mais inteligentes e divertidos, Bandeira ao Vento. Aleluia!!!

quinta-feira, outubro 30, 2008

Manuela La Palisse

«Manuela Ferreira Leite, disse ontem que [...] considerará uma derrota qualquer resultado nas legislativas de 2009 que não seja a vitória.»
in Público

Fontes que pediram para não serem identificadas garantiram-nos que Manuela Ferreira Leite considerará também que se McCain perder as eleições americanas o vencedor será Obama. Um oráculo, esta senhora.

Deus

segunda-feira, outubro 27, 2008

Futebol na Palestina


A selecção de futebol da Palestina jogou pela primeira vez na sua terra. O adversário foi outra equipa árabe a Jordânia, e o resultado um empate, 1-1. O resumo em vídeo pode ser visto na página do Público. Fica aqui a notícia, porque este blogue também se faz disto.

segunda-feira, outubro 20, 2008

Torres Vedras . 2008.12.01


«Por duas razões se persuadem mal os homens a crer algumas cousas: ou por muito dificultosas, ou por muito desejadas; o desejo e a dificuldade fazem as cousas pouco críveis.»

Faz sentido

O PCP considera que as eleições nos Açores, onde o PS esmagou a concorrência com cerca de 50% dos votos e deixando o PSD a cerca de 20 pontos, são um "sinal de descontentamento com o governo nacional". Hm. Faz sentido.

sábado, outubro 18, 2008

Feio!

Tentei levar a Carolina, de 3 anos, a ouvir o Samuel Úria, na Livrododia, ontem. Prometi-lhe que havia um senhor a cantar. Ela pareceu gostar da ideia. Livro e música? Muito bem. O problema é que "estava muito alto". Descobrimos ontem que a Carolina tem medo de guitarras. Ainda tentámos mais duas ou três vezes, sempre que o Samuel largava a guitarra e conversava, entre canções. Mas logo que a música recomeçava, a Carolina puxava-me a mão. A última tentativa revelou-se uma inesperada manifestação política da minha sobrinha, que me fez muito feliz. Foi quando o Samuel manifestou o seu apoio ao John McCain. A Carolina, que se preparava para lhe dar mais uma oportunidade, estacou, indignada, puxou-me a mão mais uma vez, e forçou-me a abandonar a livraria ainda antes de o Samuel voltar a dedilhar a guitarra.

quinta-feira, outubro 09, 2008

Boa e saborosa!

Folheando um livro infantil com a Carolina, de 3 anos, engasguei-me quando dei com esta pérola, que cito de cor: "a mulher, como a sardinha, quer-se boa e saborosa, e só depois pequenina". Eu não acho normal. Mas também é que verdade que depois da ameaça de me paparem o bacalhau, já espero tudo em livros infantis portugueses.

quarta-feira, outubro 08, 2008

Uma questão de bom senso

Tenho de fazer uma manifestação de interesse, antes de entornar aqui a minha má disposição: adoro conduzir.

Até aos finais de 2006, isto é, até aos meus 35 anos, nunca me passou pela cabeça tirar a carta. Perante o espanto incrédulo dos que me perguntavam - perdão, que me exclamavam "porquê?!", sempre respondi que não me fazia falta nenhuma, que ia a todo o lado de transportes públicos ou a pé, que não era rico para gastar rios de dinheiro em impostos, revisões, combustível, prestações e mais um enorme etc. Sempre me mostrei insensível aos batidos argumentos da independência ("ai é uma independência") e à esfarrapadíssima desculpa dos maus transportes ("ainda se Lisboa tivesse bons transportes").

Mas nos finais de 2006, pouco depois de fazer 35 resistentes anos, decidi tirar a carta. A razão foi simples: estava num processo de mudança radical de vida, e além disso parecia-me evidente a necessidade de um carro para trazer os sobrinhos da escola. Arrastei-me durante mais de um ano, com várias pausas para descompressão mental, em insuportáveis aulas de código e em ligeiramente mais animadas aulas de condução. Lá tirei a dita cuja em Janeiro deste ano da graça de 2008, e, com carro novo e baratinho nas unhas, lá me lancei à estrada, para ver se afinal ficava assim tão independente e se os transportes públicos eram assim tão maus.

  1. A independência - Admito que o problema possa estar na definição de "independência". É que até agora eu não dei por nada. Com a excepção de duas saborosas (mas não indispensáveis) viagens ao Alentejo e Algarve num misto de trabalho e ócio, desde Janeiro ainda não dei por nenhuma independência. Ainda não fiz nada que não pudesse ter feito sem carro. Jantares de amigos, teatro, cinema. Nada. Continuei a ir de transportes públicos ou a pé, que é muito mais económico. Ainda fiz algumas experiências. Fui meia dúzia de vezes de carro para a faculdade, mas rapidamente me dei conta da tolice. Não compensa: é muito mais caro do que ir de autocarro, gasta-se o mesmo tempo a chegar lá (ou mesmo mais, em horas de ponta), e ainda se tem de procurar lugar para estacionar. Num jantar de amigos levei o carro. Sem qualquer necessidade e sem qualquer vantagem: além de ter ficado impedido de beber a belíssima vinhaça à vontade, gastei incomparavelmente mais dinheiro, perdi tempo e nervos à procura de lugar para estacionar, e no fim de contas ainda havia autocarros à hora em que me vim embora. Por isso continuo hoje, 10 meses depois de ter carta, a usar quase exclusivamente transportes públicos e a andar a pé. Abri apenas djuas excepções: primeiro, para as saídas nocturnas aqui em Torres Vedras, pois vivo a cerca de 3km do meu bar preferido, e não me apetece muito, depois da noitada, ainda fazer tal distância a pé. Independência? Nem por isso: tive de abdicar das cervejolas. É que se conduzir... A segunda excepção são as incursões ao supermercado com a minha mãe, e aí de facto é a única vantagem palpável de ter carta, e ir buscar os miúdos à escola, pois enfiar 2 pimpolhos de 2 e 3 anos num autocarro é tarefa para a qual os meus nervos não estão ainda calejados. Moral da história: não só não ganhei nenhuma independência, como perdi bastante, ao ter de deixar de beber socialmente quando uso o carro ("ai é uma independência!"), e sobretudo ao ter apertar o cinto para a prestação, para o seguro, para o combustível e para o imposto. Mas que grande independência que me saiu na rifa...

  2. Os transportes são mesmo maus? Não. Só pode dizê-lo quem nunca andou neles. Vejamos. Tenho autocarros a sairem de 7 em 7 minutos à hora de ponta, de 30 em 30 nas horas mortas, para Lisboa. A paragem é a 10 metros do Metro do Campo Grande, outros tantos a pé para a Faculdade - obviamente vou a pé. O percurso demora no máximo 40 minutos, sensivelmente o mesmo que o trajecto de carro - se não houver engarrafamentos na Calçada de Carriche, que o autocarro evita elegantemente, ao usar as faixas "bus". Para voltar para casa o ritmo de passagem de autocarros é o mesmo, e vai até às 00:30. Nada mau. Podia ser melhor, mas não é nada mau. Dá para jantares, cinema, teatro. Dir-me-ão que tenho a sorte de trabalhar ao pé da paragem do autocarro. É verdade. Mas a (má) experiência de me deslocar de carro em Lisboa para ir a outros sítios, uns mais centrais outros menos, diz-me que os transportes continuam a ser a melhor opção. A não ser que se seja como uma pessoa que eu conheço, que acha que ir do Metro do Campo Pequeno à Gulbenkian a pé é uma distância inaceitável. E aí parece-me que não há muito a fazer... E ainda que não fosse assim, há sempre o aspecto económico: não há calculadora que resista à comparação entre andar de carro e andar de transportes. O meu irmão, que às vezes vai para Lisboa de carro, disse-me em tempos, quando ia todos os dias assim, que gastava mais de 100€ por semana em gasolina, fora as portagens (cerca de 5€ por dia). Ora nessa altura o passe de 30 dias para Lisboa custava pouco mais de 100€... Mais palavras para quê?
Repito o que disse no início: adoro conduzir. Adoro. Por mim fazia viagens de 300km todas as semanas. No entanto ainda tenho algum siso. Pouco, mas tenho. E pouco dinheiro. E prezo a minha saúde. Por isso, se tiver de optar entre uma despesa insuportável em combustível e portagens, uma pilha de nervos diária com o pára-arranca, uma "renda" de prestação do carro e do seguro, uma barriga a crescer de sedentarismo, com os problemas de saúde daí decorrentes, por um lado; e uma despesa fixa e relativamente reduzida em passes, viagens descansadas a dormitar ou a ler, caminhadas a pé (as tais que me ajudaram a perder quase 40 kg em dois anos), então eu não hesito: o carro fica estacionado em casa, para ser usado só em ocasiões restritas e bem definidas. É por isso que pus 15€ de gasolina já não me lembro há quantas semanas, e o depósito continua confortavelmente fornecido.

Podia ainda falar dos benefícios ambientais desta opção, mas são tão óbvios que até um chimpanzé amestrado os entende, e portanto poupo o meu latim.

terça-feira, outubro 07, 2008

Adeus ó vai-te embora

Já é público que a FNAC acabou com os descontos de 10%. Acabou assim também com o único motivo que ainda me fazia ir lá.