
Num país normal, Jardim há muito teria sido demitido e reformado compulsivamente, tais têm sido os dislates, as incontinências verbais, a chantagem, o insulto.

No futebol costuma-se dizer que, se uma equipa ganha o jogo, então o treinador é felicitado por determinada táctica. Se por um acaso perder, então essa mesma táctica é arrasada por adeptos e imprensa. Sócrates não era obrigado a submeter a sua proposta de despenalização do aborto a referendo. Tinha legitimidade legal e política para propor a alteração no parlamento, onde tinha a garantia de uma aprovação por maioria esmagadora. Era o que o PCP defendia. Mas o que o PCP nunca entendeu é que os movimentos do "não" nunca deixariam passar em branco esta manobra legalíssima, e que a nova lei ficaria maculada inevitavelmente logo à nascença. Pelo contrário, a opção referendária (que não era legalmente obrigatória, recorde-se) permite calar os "nãos" radicais, por um lado, e a legitimação da legislação proposta, por outro. Sócrates apostou tudo, e ganhou. Ganhámos todos.
Ainda não se sabe o resultado do referendo, são agora 19:00, mas já se sabe que a abstenção anda por volta dos 60%. Portanto, o portuga típico, que passa a vida em declarações proto-fascistas do tipo "eles são todos iguais", "eles querem é poleiro", responde desta forma quando lhe é dada a oportunidade de escolher, sem ser por intermédio desses "malandros": está-se nas tintas, não quer saber, os outros que decidam. É este o povo que temos. Eu? Eu fui votar, como qualquer pessoa bem formada e civilizada.
A última dos apoiantes do "não" é que se deve alterar a lei de modo a que a mulher que aborta não seja penalizada. Isto é, que seja crime, mas sem ser punido. Portanto, pode-se fazer, porque não há penalização. Por isso votam contra uma proposta que pretende despenalizar a mulher que faça um aborto, e por isso hostilizam o SIM, que quer que acabem os julgamentos de mulheres que abortam. Espera lá que agora fiquei baralhado. Alguém me pode explicar assim como se eu tivesse 5 anos?