sábado, novembro 12, 2005

Assim não

A ausência de Manuel Alegre na votação do Orçamento de Estado foi um tiro no pé. Não com pistola, mas com canhão. Alegre pode estar zangado com o PS por não ter recebido o apoio oficial. Está no seu direito. Mas enquanto deputado, Alegre representa também os cidadãos que o elegeram. Se não quer apoiar o partido no parlamento, saia. Assim não. Pior do que isto foi a justificação: Alegre disse que sabia que o seu voto não seria necessário, e que por isso não tinha achado importante comparecer. Cuidado: pode haver gente que, no dia 22 de Janeiro, ache que Alegre não precisa do seu voto, e que portanto decida ficar em casa, ou votar noutro candidato...

Quanto a mim, estou cada vez menos indeciso.

Diga lá?

Muito se falou das "gaffes" de Soares. Sim, aquelas que ele comete publicamente há pelo menos 31 anos. Disse-se que era da idade. E as de Cavaco, que nas 2 ou 3 vezes em que abriu a boca nos últimos tempos foi só para sair asneira (bem, antes asneira que bolo-rei)? Primeiro foi a "Assembleia Nacional", agora diz que as próximas eleições são as autárquicas. Com isto chegamos a algumas questões interessantes:
  • Cavaco está velho, e já não sabe o que diz?
  • Cavaco não fala com medo de cometer "gaffes" (afinal, tem uma ratio de "gaffe" por frase muito superior à de Soares)?
Seja como for, isto parece explicar o silêncio contumaz de Cavaco, aliás D. Sebastião: não fala, com medo de que lhe saia asneira.

quarta-feira, novembro 09, 2005

Sócrates

A ascensão de Sócrates à liderança do PS ficou marcada pelo episódio do teleponto, no discurso da consagração. Aquilo que era uma atitude normal e usada por vários políticos em todo o mundo foi considerado sinónimo de impreparação e artificialismo. Se Sócrates tivesse levado o discurso em papel, não haveria tamanho chinfrim, apesar de na prática ser exactamente a mesma coisa.

Durante a campanha eleitoral para as Legislativas de Fevereiro de 2005, foi passada a mensagem de que Sócrates era um "robot", um político só de imagem, sem consistência. Alguma crispação nos debates com o dr. Lopes ajudou a fixar esta imagem.

Vem tudo isto a propósito do debate do Orçamento de Estado para 2006. No seguimento do que se tem visto em outros debates parlamentares, Sócrates tem feito intervenções de grande qualidade, desmontando os argumentos da oposição, e denunciando as suas contradições - memorável, de antologia, as intervenções a propósito do TGV, em que recordou que o PSD ainda há 2 anos era um entusiasta da alta velocidade, tendo inclusive assinado acordos com Espanha que previam a inauguração de alguns troços já em 2009, e aquela em que aproveitou uma deixa de um deputado do PSD que se queixava de a redução da despesa ser muito pequena, recordando que nos 3 anos de desgoverno PSD/CDS a despesa não só não desceu, como até subiu astronomicamente.

Estas intervenções mostram que eram falsas e injustas as acusações de artificialismo de Sócrates: as mais brilhantes tiradas desta tarde foram precisamente as que fez de improviso.

Não sou, nem nunca fui, admirador de Sócrates. Votei no PS, como voto sempre, porque sou militante, mas Sócrates nunca me convenceu, nem durante a campanha interna para a liderança, nem durante a campanha para as legislativas. Mas estes primeiros meses de governo, apesar de algumas medidas com as quais discordo, têm revelado coragem e competência. E de cada vez que ouço o homem no parlamento aumenta também a sensação de que temos ali político com consistência e coragem, mesmo que não concordemos com algumas das suas medidas. Marques Mendes sofreu isso hoje na pele: foi arrasado. Até Louçã, hábil na palavra, demagogo de primeira água, ficou reduzido ao sorriso seráfico que ostenta sempre que é derrotado na sua argumentação (o que não acontece todos os dias).

terça-feira, novembro 01, 2005

Adenda

Adenda à mensagem anterior

Ser político profissional não tem mal nenhum. Só na mente dos ideólogos da campanha cavaquista, ávidos de caçarem o voto pouco esclarecido, é que isto é um problema. Para os eleitores esclarecidos, incluindo grande parte do eleitorado cavaquista, ser político profissional não é problema nenhum - o seu candidato é, de resto, um dos mais profissionais políticos portugueses.

Portanto, grave não é ser político profissional. Grave, muito grave, é fazer-se passar por estar desligado da vida política, quando qualquer pessoa com memória sabe que Cavaco é uma das mais influentes figuras da política portuguesa desde há 25 (vinte cinco) anos, com cargos de responsabilidade como Ministro das Finanças (1 vez) e Primeiro-Ministro (3 vezes). Grave é enganar as pessoas desta maneira, com esta chico-espertice, com estes jogos de palavras. Grave é ostentar aquela pose salazarenga de austero messias acima da política, quando se é um dos mais influentes políticos dos últimos 31 anos, para o bem e para o mal.

A propósito, recorde-se o estado em que o seu consulado no Ministério das Finanças (1980-1983) deixou o país. Já sem falar no "monstro" criado durante os seus governos (1985-1995), o tal défice, que atingiu nessa altura valores altíssimos, mais até do que o défice deixado por Santana, e muito mais do que o défice deixado por Guterres. Por isso nem é de admirar as desfaçatez com que agora aparece como salvador da pátria, como se nada tivesse que ver com o actual estado do país. Já tinha feito o mesmo em 1985, aproveitando-se da memória curta do eleitorado português.

É por estas e outras coisas que eu NÃO vou votar Cavaco. Não quero ver voltar à política portuguesa aquela probóscide antipática. Lembrar-me-ia sempre da arrogância do seu governo. Do total desrespeito pelos mais desfavorecidos. Da força brutal da polícia, que lançava cães e bastonadas contra manifestações pacíficas. Do descontrolo das finanças públicas. Do desemprego. Da má disposição. De todas estas e outras coisas de que os mais desmemoriados já não se lembram. Não quero.

Ainda não sei em quem vou votar, se em Mário Soares se em Manuel Alegre - que são tão profissionais como Cavaco, mas assumem-no e orgulham-se disso. Mas sei muito bem em quem não vou votar.

Se isto não é um profissional...

Percurso político de Cavaco Silva, aliás D. Sebastião:

- Ministro das Finanças (1980-1983)
- Primeiro-Ministro (1985-1987)
- Primeiro-Ministro (1987-1991)
- Primeiro-Ministro (1991-1995)
- Presidente do PSD (1985-1995)
- Candidato presidencial derrotado, graças aos deuses (1995)
- Candidato presidencial para mal dos nossos pecados (2005)

Se isto não é um político profissional, então o que é um político profissional?


P.S.: se não é profissional, não deveria devolver as três (3) pensões, no valor de 9356 euros mensais, que recebe pelas suas várias funções políticas desde há 25 anos?