quinta-feira, junho 12, 2008

Só se for para os seus

«Citando padre António Vieira, o Presidente desafiou ainda: "saibamos nós, os portugueses de hoje, honrar a sua memória e acreditar, como ele acreditou, nessa História do Futuro, a História que desejamos para os nossos filhos".»

Notícia tirada daqui.

Como eu suponho que o sr. Cavaco leu a História do Futuro, suponho também que, como Vieira defende nesse texto, o sr. Cavaco acha que Portugal é uma nação superior eleita e protegida por Deus, a quem está destinado o domínio sobre todas as outras nações, liderando o mundo cristão contra o Islão. Não é essa a História que eu desejo para os nossos filhos. Porque eu não acredito em impérios, e prezo demasiado a tolerância e a convivência inter-cultural. É que como o sr. Cavaco devia saber (não é assim tão transcendente), a História do Futuro tem um contexto histórico muito preciso, dificilmente exportável, pelo menos por pessoas de bem, para fora do século em que foi escrita. A não ser que o sr. Cavaco não tenha lido, e que se tenha limitado a arrotar umas postinhas de pescada sussurradas por algum assessor que ou é alucinado ou também não leu, e nesse caso trata-se de uma tremenda, escandalosa desonestidade intelectual.

Já agora, e embora não venha na História do Futuro, fica aqui uma citaçãozinha de Vieira, na corrente do que escreveu na História do Futuro.
«Em Espanha verá o rei de Portugal ressuscitado, e Castela vencida e dominada pelos portugueses. Em Itália verá o Turco barbaramente vitorioso, e depois desbaratado e posto em fugida. Em Europa verá universal suspensão de armas entre todos os príncipes cristãos, católicos e não católicos; verá ferver o mar e a terra em exércitos e em armadas contra o inimigo comum. Na África e na Ásia, e em parte da mesma Europa, verá o Império Otomano acabado, e El-Rei de Portugal adorado Imperador de Constantinopla. Finalmente, com assombro de todas as gentes, verá aparecidas de repente as dez tribos de Israel, que há mais de dois mil anos desapareceram, reconhecendo por seu Deus e seu senhor Jesus Cristo, em cuja morte não tiveram parte.»

Padre António Vieira, Carta ao padre André Fernandes,
29 de Abril de 1659
Edição de J. Lúcio de Azevedo, INCM

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