quarta-feira, junho 30, 2010
As carroças e os ferrari
terça-feira, junho 29, 2010
Das tempestades humanas
9. Arribar da viagem só pela inspecção das selagens não sucede ao Piloto de experiência. Os ameaços de algũa paixão não devem atemorizar a Nau de São Pedro, a fim de que se não dirija às importantes resoluções. Pode flutuar nas maiores ondas, mas não se pode perder nas tempestades humanas.
Balidos das Igrejas de Portugal ao Supremo Pastor Summo Pontifice Romano. Pellos tres Estados do Reyno, Paris, 1653
segunda-feira, junho 28, 2010
Brabos gigantes
Um cheirinho do início:
El Cauallero de la triste Figura DON QVIXOTE DE LA MANCHA, &c. Digo que como es notorio al mundo mi valor inuencible, lo sea tambien la Protestacion, y Reto, que por la presente hago, y es que despues del miserable castigo, que el Cielo ha dado a mi nacion Castellana en pena justa de su soberbia, embustes, y tirannias, reduziendola al mayor extremo de couardia, que jà mas ha encontrado Cauallero andante en la redondez de la tierra, con que vergonçosamente ha perdido su monarchia, y en particular despues de la misteriosa libertad de los Portuguezes nuestros aduersarios antigos, y increible corage, con que el Verano passado estos brabos gigantes, sin receber daño alguno, han por todas partes talado nuestros campos, quemado nuestros lugares, y muerto nuestras gentes ...
domingo, junho 27, 2010
Notas sobre o Mundial . III . Heil Lobo
Notas sobre o Mundial . II . Senhoras do Caravaggio
Notas sobre o Mundial . I . Antena 2
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(*) Aliás, é a única rádio que ouço, apenas com excepção da Antena 1 para os relatos de futebol.
sábado, junho 19, 2010
Das lombadas
Da ordinarice
quarta-feira, junho 16, 2010
Bloomsday 2010
He rested an innocent book on the edge of the desk, smiling his defiance. His private papers in the original. Ta an bad ar an tir. Taim imo shagart. Put beurla on it, littlejohn.
Quoth littlejohn Eglinton:
- I was prepared for paradoxes from what Malachi Mulligan told us but I may as well warn you that if you want to shake my belief that Shakespeare is Hamlet you have a stern task before you.
Bear with me.
Stephen withstood the bane of miscreant eyes, glinting stern under wrinkled brows. A basilisk. E quando vede l'uomo l'attosca. Messer Brunetto, I thank thee for the word.
James Joyce, Ulysses
sexta-feira, junho 11, 2010
segunda-feira, junho 07, 2010
quinta-feira, junho 03, 2010
O Corpo de Deus de 1647
A coisa conta-se em poucas palavras, e, apesar de quase completamente ignorada pela historiografia contemporânea, é fundamental na propaganda da Restauração. Mais, até ao século XIX ainda era fonte de inspiração de obras literárias, como "O Regicida", de Camilo Castelo Branco, e indirectamente as suas sequelas "A filha do regicida" e "A caveira da mártir".
No dia de Corpo de Deus de 1647, que nesse ano calhou a 20 de Junho, D. João IV comungou e foi à procissão, que percorria o que é hoje a Baixa de Lisboa. Alegadamente acoitado numas casas que teria alugado e cujas paredes teria derrubado para poder ter vista para os dois lados da rua, Domingos Leite Pereira esperava a passagem do rei para, alegadamente a mando de Castela, matar D. João IV (*). O rei lá foi à procissão, e voltou, imagino, para o regaço da sua Luisinha de Gusmão, no fim da dita. Então não houve tiroteio? Pois não. Alegadamente, Domingos Leite Pereira ter-se-á arrependido à última da hora, ao ver uma "majestade divina" pairando sobre o rei e que lhe teria paralisado os membros, impedindo-o de alvejar o Bragança - o que veio mesmo a calhar à propaganda quinto-imperista, que se fartou de escrever sobre isto. Confessou isto tudo em interrogatório, ou pelo menos assim diz a a crónica oficial, que acrescenta que o regicida frustrado, terá entoado loas a D. João IV, qual Saulo, aliás Paulo, depois da Estrada de Damasco.
Domingos Leite Pereira terá então fugido para Madrid, onde alegadamente terá prometido a Filipe IV que tentaria de novo matar o homem - e aqui não bate a bota com a perdigota: então se a criatura viu a tal majestade divina sobre o rei e lhe entoou louvores, então porque raio resolve que afinal vai tentar matar o homem de novo, o tal a quem entoou louvores e que viu ser protegido pelo seu Deus? Bom, mas é assim que reza a crónica oficial, e quem sou eu para contrariar Frei Francisco Brandão. (o Camilo arranjou uma versão muito melhor, mas o Camilo é o Camilo, eu sou eu).
Seja como for, em finais de Julho de 1647 Domingos Leite Pereira está de novo em Portugal, alegadamente para tentar matar D. João IV, outra vez. A tentativa não passa disso mesmo. Traído pelo companheiro, Roque da Cunha, é preso no dia 31 de Julho de 1647. Parece que confessou logo tudo, inclusive a história da majestade divina, que tão bem aproveitada seria pela propaganda do Quinto Império. Foram encontradas no lugar do crime que não aconteceu a escopeta e as balas embebidas em veneno. O que é muito conveniente, e revelador de que o moço era bastante distraído. Como a justiça naqueles tempos era célere, talvez demasiado célere, foi executado com requintes de crueldade no dia 21 de Agosto de 1647, apenas 2 meses depois do crime que não chegou a cometer.
O lugar onde não aconteceu o atentado está hoje em parte visível na Rua dos Fanqueiros, pois a rainha D. Luísa de Gusmão mandou que as casas fossem derrubadas e ali se fizesse um convento. Hoje apenas restam partes da igreja do convento, destruído em 1755.
A crónica oficial do acontecimento saiu logo em 1647, e é uma delícia propagandística. Recomendo vivamente os passos em discurso directo, sobretudo os atribuídos a D. João IV.
Um dos muitos textos que então se escreveram sobre o caso foi um sermão de Frei Luís de Sá, lente na Universidade de Coimbra, e que tem este delicioso título:
«Sermão que pregou o doutor Fr. Luís de Saa religioso da ordem de S. Bernardo, Lente da Cadeira de S. Thomas, e Gabriel da Universidade de Coimbra na procissão solemne que o Reverendíssimo Cabido do próprio bispado instituiu. Pro gratiarum actione, de Deus haver livrado a sua Majestade da admirável treição, que contra ele por ordem de Castela se tinha maquinado em dia de Corpus Christi.»
Foi pronunciado em Coimbra em 8 de Setembro de 1647, e publicado no mesmo ano - naquela época não se brincava em serviço, não havia cá as molezas e procrastinações dos nossos dias. Transcrevo dois parágrafos, modernizando a ortografia, mas conservando os casos em que a escrita denuncia formas de pronunciar diferentes das contemporâneas.
«Eu não me espanto por não ter este Salmo Autor ao certo, porque como é de um ânimo agradecido, e há tão poucos no mundo, não é novo não se lhe saber o nome, e acrescento que visto não ter este Salmo conhecidamente Autor, levado do protentoso milagre porque vimos render hoje as graças a esta santa Sé Catedral de Coimbra, com pública procissão, tão autorizada, que são estas palavras do Anjo Custódio do nosso Rei e Reino, falando expressamente com ele no Santíssimo dia de Corpus, defronte de nossa Senhora da Palma de Lisboa, quando Castela toda sempre falsa, com parte de Portugal traidor, capitaneados ambos do Diabo merediano, intentaram fazer alvo de suas setas, e tiros no pino do meio dia, a quem ia coberto do escudo da maior verdade, a custódia e âmbula do Santíssimo Sacramento.
Querem dizer as palavras do Anjo Custódio deste Reino falando com o Sereníssimo Rei nosso senhor Dom João o IV. A verdade do Senhor vos servira de escudo em toda a vida, não tendes que temer sombras nocturnas, nem setas que se derijam contra vós todos os dias: não façais caso de conselhos, e juntas de traidores, que no segredo da noite se maquinam contra vossa pessoa, que são acções de quem vive em trevas co juízo; finalmente tende grande ânimo, quando ao pino do meio dia vos virdes cometer do Diabo merediano com incurso diabólico.»
Fonte: impresso na Biblioteca Nacional, com a cota TR5661/19p
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