Do sermão das exéquias de D. João IV (1656). Retirado de uma bellíssima edição do professor João Francisco Marques, que tive o prazer de conhecer numa viagem de autocarro entre a Cidade Universitária e a Igreja de São Roque. Uma longa conversa embalada pelos engarrafamentos de Lisboa, em que apprendi mais do que em centenas de páginas de chartapácios.
Pe. António Vieira
«Foi El Rei D. João um Rei buscado, e achado por Deus. Há Reis, que parece que os fez a fortuna a olhos fechados, sem buscar, nem achar, senão acaso. Destes estão cheias as Histórias, como estiveram vazias as Coroas. El Rei D. João não só foi buscado, e achado, se não buscado, e achado por Deus. Mas onde o buscou Deus, e o achou? O que Deus buscou, era um Príncipe, que pudesse ser Rei, e Restaurador de Portugal: buscou-o entre os Príncipes pertensores do Reino, e achou-o na Casa de Bragança; buscou-o entre os Príncipes da Casa de Bragança, e achou-o na pessoa d'El Rei D. João. Os Príncipes pertensores à Coroa de Portugal foram cinco: Espanha, França, Sabóia, Parma, Bragança; e assim como Deus buscou a David entre todas as Tribos, e o achou no Real de Judá, assim buscando um Rei Restaurador de Portugal entre todos, os que tinham, ou podiam ter algum direito a ele, só na Real Casa de Bragança o achou.»
in João Francisco Marques (ed.), Sermões do Padre António Vieira. Morte e Sepultura. Oratória Fúnebre. Figueirinhas, Porto, 2009
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