Começo a ter uma ideia muito mais clara da desinformação criada por best-sellers esotéricos e conspiracionistas, como os do Dan Brown e amigos, quando o carteiro me olha de lado ao pedir-me para assinar o registo e entregar-me um DVD remetido do nada secreto Arquivo Secreto Vaticano. Se ele soubesse que o DVD contém 612 imagens digitalizadas de documentos inéditos desse Arquivo, que me foram feitas a pedido (mediante pagamento régio, é certo), como o fariam a qualquer outra pessoa, imagino então que o seu olhar ficaria tão de lado que me naufragaria algures na entrada do prédio.
segunda-feira, julho 21, 2008
quinta-feira, julho 17, 2008
Vlad Tepes
Quando hoje fui buscar os meus sobrinhos à creche, dei com o Manuel retorcendo-se em pranto aflitivo no colo de uma auxiliar. Esta, pesarosa, comunicou-me que o Vlad o tinha mordido, e que lhe ia lavar o braço, onde se destacava o baixo relevo de uma dentadura completa e em bom estado. Ainda pensei dizer-lhe que talvez fosse melhor esfregar com alho, mas depois lembrei-me de que o perigo só era real se o Manuel lhe tivesse bebido o sangue. Conhecedor da impossibilidade de fazer o Manuel beber seja o que for sem ficar mais na roupa do que na boca, e tendo observado que ela se achava imaculada, pelo menos no que a sangue diz respeito, achei que estava tudo bem. Pelo sim pelo não, vou passar a ir à creche armado de dentes de alho e crucifixo. Não vá o diabo tecê-las, nunca se sabe o que nos pode fazer uma criança chamada Vlad.
sábado, julho 12, 2008
Nunca digas nunca
Se alguém me tivesse dito, há 2 ou 3 anos atrás, que um dia na minha casa andariam trepando pelos móveis desordenados rebanhos de fraldas, toalhetes, cremes hidratantes, chuchas, roupas de criança, bonecos de peluche (sem ser os leões do Sporting), carrinhos de brincar e livros do Ruca, e sobretudo que eu teria um carro e que o banco traseiro desse carro estaria permanentemente ocupado com cadeirinhas de criança, eu riria alarvemente e mandaria a pessoa tratar-se no Miguel Bombarda. Et pourtant...
Bocejo
quarta-feira, julho 09, 2008
A vitória das Livrarias
Há uma diferença fundamental entre livrarias e mercados de livros. Os mercados de livros dispõem estética e estrategicamente os livros, com "tops" de vendas. Normalmente é fácil encontrar as novidades e, sobretudo, os grandes êxitos de vendas. São geridas muitas vezes por pessoas que de livros percebem pouco, e acima das letras colocam os números. É legítimo. Eu não penso assim, e se calhar eu é que estou errado, pois chego ao fim do mês e vejo, desesperado, que gastei dezenas (às vezes centenas) de euros em livros, e falta-me o carcanhol para o passe ou para uma ida ao teatro.
Depois há as livrarias, geridas por bibliófilos (o ideal é quando são também bibliómanos), que têm as letras em conta pelo menos igual à dos números (porque é preciso pagar as contas no fim de mês). Nas livrarias há a mesma coisa que nos mercados de livros, e normalmente até há mais. Há aqueles autores que vendem pouco, e são bons. Há aqueles livros com pouca saída, mas muitíssimo bons. E há aqueles que são verdadeiras preciosidades, impossíveis de achar nas fnacs ou na generalidade das bertrands. Porque vendem pouco. São espaços de qualidade. Os livros estão organizados de forma inteligente, não mercantilista. É o livreiro que decide o que fica onde e durante quanto tempo, não as editoras. Os "tops", se existem, são de facto baseados no número de exemplares vendidos.
As livrarias são acolhedoras. São casas de livros. Os mercados de livros são estantes e caixas registadoras. Vendem os livros um bocadinho mais baratos, às vezes. Mas valerá a pena?
Há, finalmente, pequenos pormenores que fazem a diferença. Há os lançamentos e as tertúlias e as sessões de poesia. Os mercados do livro também os têm, mas normalmente só se garantirem um número significativo de participantes e um encaixe financeiro agradável. As livrarias também preferem que isso aconteça. Mas não é isso o mais importante. Por isso não se importam de convidar autores pouco ou nada conhecidos.
Há também o espaço para as crianças, aspecto a que só desde que me tornei "babysitter" dos meus sobrinhos comecei a dar a devida importância. E desses espaços eu não posso falar muito, pois o que a mim, adulto, parece bom a uma criança pode parecer uma imensa maçada. Por isso quem melhor do que as crianças para decidir? A Carolina já conhecia a Bertrand de Torres Vedras (a "uoja dos uivros"), e tinha já o seu território, junto da mesa cheia de livros muito bem empilhadinhos, sem espaço para pôr mais nada. Já tinha até marcado o território com uma valente xixizada como já tive oportunidade de contar. Ontem levei-a à LIVROdoDIA, onde ia decorrer o lançamento do livro Portugal e os Portugueses, de D. Manuel Clemente. E ela notou bem a diferença em relação à Bertrand. Não há mesas com arrumadinhas pilhas de livros, mas há brinquedos, há bonecos, há jogos, há bancos confortáveis. Eu prometo ao Luís Cristóvão que a ponho a fazer xixi antes, não vá ela querer marcar de novo o território, mas a verdade é que a Carolina já se decidiu: agora já não quer a "uoja dos uivros" (Bertrand), agora quer a "outra uoja dos uivros" (a LIVROdoDIA).
Depois há as livrarias, geridas por bibliófilos (o ideal é quando são também bibliómanos), que têm as letras em conta pelo menos igual à dos números (porque é preciso pagar as contas no fim de mês). Nas livrarias há a mesma coisa que nos mercados de livros, e normalmente até há mais. Há aqueles autores que vendem pouco, e são bons. Há aqueles livros com pouca saída, mas muitíssimo bons. E há aqueles que são verdadeiras preciosidades, impossíveis de achar nas fnacs ou na generalidade das bertrands. Porque vendem pouco. São espaços de qualidade. Os livros estão organizados de forma inteligente, não mercantilista. É o livreiro que decide o que fica onde e durante quanto tempo, não as editoras. Os "tops", se existem, são de facto baseados no número de exemplares vendidos.
As livrarias são acolhedoras. São casas de livros. Os mercados de livros são estantes e caixas registadoras. Vendem os livros um bocadinho mais baratos, às vezes. Mas valerá a pena?
Há, finalmente, pequenos pormenores que fazem a diferença. Há os lançamentos e as tertúlias e as sessões de poesia. Os mercados do livro também os têm, mas normalmente só se garantirem um número significativo de participantes e um encaixe financeiro agradável. As livrarias também preferem que isso aconteça. Mas não é isso o mais importante. Por isso não se importam de convidar autores pouco ou nada conhecidos.
Há também o espaço para as crianças, aspecto a que só desde que me tornei "babysitter" dos meus sobrinhos comecei a dar a devida importância. E desses espaços eu não posso falar muito, pois o que a mim, adulto, parece bom a uma criança pode parecer uma imensa maçada. Por isso quem melhor do que as crianças para decidir? A Carolina já conhecia a Bertrand de Torres Vedras (a "uoja dos uivros"), e tinha já o seu território, junto da mesa cheia de livros muito bem empilhadinhos, sem espaço para pôr mais nada. Já tinha até marcado o território com uma valente xixizada como já tive oportunidade de contar. Ontem levei-a à LIVROdoDIA, onde ia decorrer o lançamento do livro Portugal e os Portugueses, de D. Manuel Clemente. E ela notou bem a diferença em relação à Bertrand. Não há mesas com arrumadinhas pilhas de livros, mas há brinquedos, há bonecos, há jogos, há bancos confortáveis. Eu prometo ao Luís Cristóvão que a ponho a fazer xixi antes, não vá ela querer marcar de novo o território, mas a verdade é que a Carolina já se decidiu: agora já não quer a "uoja dos uivros" (Bertrand), agora quer a "outra uoja dos uivros" (a LIVROdoDIA).
terça-feira, julho 08, 2008
Voltando a bater no ceguinho
Às vezes sou muito duro para as pastelonas empresas portuguesas (ou dependências portuguesas de multinacionais), que demoram eternidades bíblicas para enviar por correio encomendas feitas pela internet. A FNAC portuguesa, por exemplo. Fiz lá duas encomendas que demoraram entre 1 e 2 semanas a chegar. Como tenho contado, as encomendas através da Amazon.co.uk ou Amazon.fr demoram 2 ou 3 dias a chegar, o que diz muito das razões que levam a Inglaterra e a França a serem países prósperos, e Portugal esta apagada e vil tristeza. Quando uma encomenda demora menos a chegar de Londres ou Paris do que de Lisboa, parece-me que está tudo dito, quando à competência, organização e respeito pelos consumidores. E não, obviamente o problema não é dos correios: os correios que me entregam as encomendas da Amazon, a partir do momento em que desembarcam em Lisboa, são os mesmíssimos que me entregam os da FNAC. A diferença é que a Amazon põe-nos no correio poucas horas depois de a encomenda estar feita, a FNAC fá-lo vários dias depois.
Não tenho tido, no entanto, o hábito de mandar vir da Amazon.com, porque com as taxas fica mais caro, e confesso que não tenho muita paciência para esperar (normalmente vêm de barco, e demora umas semanitas). Por isso quando no dia 24 de Junho, aproveitando o dólar baixo, encomendei o Arabic-English Dictionary: The Hans Wehr Dictionary of Modern Written Arabic, imprescindível para o avanço dos meus estudos na língua árabe padrão e clássica, não contava com ele antes do fim de Julho, como de resto a própria Amazon.com me informava, prevendo a chegada a Lisboa no dia 24 de Julho. Por isso já se pode imaginar a minha surpresa quando ontem, dia 7 de Julho, duas semanas depois de feita a encomenda, já lá estava no cacifo da faculdade o meu precioso dicionariozinho. Como já não punha os pés na faculdade há mais de 1 semana, nada me garante que não tivesse chegada há mais tempo. É por estas e outras que eu continuo a fazer compras via internet na Amazon. Na FNAC, não.
Não tenho tido, no entanto, o hábito de mandar vir da Amazon.com, porque com as taxas fica mais caro, e confesso que não tenho muita paciência para esperar (normalmente vêm de barco, e demora umas semanitas). Por isso quando no dia 24 de Junho, aproveitando o dólar baixo, encomendei o Arabic-English Dictionary: The Hans Wehr Dictionary of Modern Written Arabic, imprescindível para o avanço dos meus estudos na língua árabe padrão e clássica, não contava com ele antes do fim de Julho, como de resto a própria Amazon.com me informava, prevendo a chegada a Lisboa no dia 24 de Julho. Por isso já se pode imaginar a minha surpresa quando ontem, dia 7 de Julho, duas semanas depois de feita a encomenda, já lá estava no cacifo da faculdade o meu precioso dicionariozinho. Como já não punha os pés na faculdade há mais de 1 semana, nada me garante que não tivesse chegada há mais tempo. É por estas e outras que eu continuo a fazer compras via internet na Amazon. Na FNAC, não.
domingo, julho 06, 2008
A ignoranta
Lido no Público:
«"Só os ignorantes é que me chamam presidente [em vez de presidenta]. A palavra não existia porque não havia a função, agora que existe a função há a palavra que denomina a função. As línguas estão aí para mostrar a realidade e não para a esconder de acordo com a ideologia dominante, como aconteceu até agora. Presidenta, porque sou mulher e sou presidenta."
Pilar del Río, "Diário de Notícias", 06-07-2008»
Eu, ignorante, continuarei a chamar-lhe "presidente" (de quê, já agora?). A não ser que ela me deixe aplicar-lhe adjectivos como "contenta", "confianta", "granda", "importanta", e, sobretudo, "ignoranta". Porque eu sou muito democrático, e se ela quer arranjar forma feminina para um substantivo invariável, eu não vejo porque é que não se poderia então arranjar feminino para todos os substantivos e adjectivos invariáveis quanto ao género. Estas obsessões quanto ao género sempre me fizeram muita confusão.
sábado, julho 05, 2008
O machado
Tendo-me prometido, sob pena de abdicar da herança da minha biblioteca, que desta vez não faria xixi no chão, lá levei de novo a sobrinha Carolina, de quase 3 anos, à Bertrand de Torres Vedras. Perdão, à "uoja dos uivros". Nunca fiando, porém, antes de sairmos enfiei-a na sanita e de lá não saiu enquanto não fez a sua xixizada, perante o meu aplauso e entusiásticos "linda menina", que estes pequenos progressos têm de ser incentivados. Espero é que a miúda não venha a desenvolver, quando mais velhinha, nenhuma perversão por causa destes xixis aplaudidos e ovacionados. Depois do Poe e do Joyce, a minha irmã nunca me perdoaria. Mas dizia eu que lá a levei de novo à Bertrand de Torres Vedras. Francamente preferia ter ficado a fazer levantamento de sobrinhos em casa (*), pois nem estava, para escândalo da Carolina, calçado nem decentemente vestido. Mas que fazer diante dos imperativamente escandidos "que-ro ir à uo-ja dos ui-vros" acompanhados de categóricos franzir de sobrancelhas e furiosos enrugar de lábios? Lá me arrastei até ao carro e fiz os 5 minutos de viagem com o José Barata Moura a dar a papa à Joana no leitor de CDs (a alternativa é cantar eu o Avô Cantigas ou a Floribella brasileira). Depois entrámos, eu timidamente, a ver se alguém me apontava o dedo e me rosnava "lá está o da menina que fez xixi no chão", ela gritando de alegria - e isto compensa tudo. A visita foi, porém, rápida. Atraída talvez pelo verde vivo da capa (eu bem tento instruí-la nas virtudes do verde e dos leões e das camisolas às riscas horizontais), a Carolina parou ainda antes de chegar à secção infantil, e pegou no Crime e Castigo. Aliviado embora por não ter sido o livro das dietas da Oprah, que ameaçava mesmo ao lado, qual Adamastor de papel, imediatamente lho tirei das mãos, peguei nela e saí, sussurrando-lhe ao ouvido "o Ródia é um menino feio! A Carolina nunca vai namorar com meninos feios que matam velhotas à machadada". Ela disse que sim, eu fiquei mais descansado, levei-a a ver as iguanas (perdão, os "uagartos") na loja de animais, e acabou-se a história.
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Já tem largos meses, a foto; agora estão bastante maiores, e muito mais colófilos :|
A especificidade de um número de fax
Lê-se e não se acredita. A "especificidade do assunto" que coloquei foi o número de fax para onde enviar o pedido de cancelamento do serviço Sapo ADSL.
«Estimado Cliente,
Muito obrigado por nos ter contactado.
Dada a especificidade do assunto que nos coloca e para podermos dar seguimento ao seu pedido da melhor forma, agradecemos que nos contacte através da linha de apoio ao cliente 707 22 72 76[1], de segunda a sexta-feira, entre as 9h00 e as 22h00.
Com os melhores cumprimentos,
Paula Dias
Apoio ao Cliente»
A minha resposta:
«Caros senhores
É por essas e outras que da vossa empresa quero distância o mais depressa possível. Não consigo entender, por mais voltas que dê à cabeça, a especificidade da informação sobre um simples número de fax. Já perdi muito tempo na vossa linha de apoio ao cliente, onde, após muita conversa fiada, lá me foi dado de má vontade o número, que infelizmente perdi. Seria pedir muito que me dessem de novo por email? Não acredito que não o saibam. São só nove números.
Sem mais
André Simões»
Apoio ao Cliente»
A minha resposta:
«Caros senhores
É por essas e outras que da vossa empresa quero distância o mais depressa possível. Não consigo entender, por mais voltas que dê à cabeça, a especificidade da informação sobre um simples número de fax. Já perdi muito tempo na vossa linha de apoio ao cliente, onde, após muita conversa fiada, lá me foi dado de má vontade o número, que infelizmente perdi. Seria pedir muito que me dessem de novo por email? Não acredito que não o saibam. São só nove números.
Sem mais
André Simões»
A base
«Mas elle queria dizer se o Carlinhos já entrava com o seu Phedro, o seu Tito Liviosinho...
– Villaça, Villaça, advertiu o abbade, de garfo no ar e um sorriso de santa malicia, não se deve fallar em latim aqui ao nosso nobre amigo... Não admitte, acha que é antigo... Elle, antigo é...
– Ora sirva-se d'esse fricassé, ande abbade, disse Affonso, que eu sei que é o seu fraco, e deixe lá o latim...
O abbade obedeceu com deleite; e escolhendo no molho rico os bons pedaços de ave, ia murmurando:
– Deve-se começar pelo latimsinho, deve-se começar por lá... É a base; é a basesinha!»
Eça de Queirós, Os Maias
sexta-feira, julho 04, 2008
Tanga
Voltou o discurso da tanga. E com ele a cara de pau da dama de pau. É espantoso como uma mulher que foi, como ministra de estado e das finanças, o rosto mais eminente de um dos piores governos das últimas décadas, marcado por um dramático recuo nas condições de vida das população, que em parte ainda estamos a pagar, por um total desprezo pelos mais necessitados, pela indiferença pelos graves problemas sociais criados, pela degradação da nossa economia, pelo disparar do desemprego, de que ainda estamos a vamos continuar a sofrer as consequências, é espantoso como uma mulher destas vem agora dizer que não há dinheiro para nada e que quer maioria absoluta nas próximas eleições. Uma mulher que, recordemos, não só não conseguiu conter o défice orçamental (disfarçado por medidas extraordináras e desorçamentações) como também o agravou, obrigando às políticas de contenção a que o actual governo tem sido forçado. É preciso ter lata. E muita cara de pau.
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