Há dias a Carolina (5 anos) perguntou-me se eu conhecia o Fernando Pessoa. Eu lá lhe expliquei que bom, quer dizer, conheço o que ele escreveu, ele não, que ele já morreu. Acrescentei que ela própria conhecia o Fernando Pessoa, pois eu já lhe tinha lido alguns poemas dele. Ela lembrou-se e riu. Depois declarou que foi a avó que matou o Fernando Pessoa, no que foi apoiada pelo Manuel (4 anos), que ecoava "foi a avó que o matou, foi a avó". Não consigo imaginar aonde terão eles ido buscar isto. Mas não deixa de ser uma honra, ser filho da mulher que matou o Fernando Pessoa.
Por seu lado, depois de se escarrapachar em cima da minha cada vez menos protuberante barriga, e de me ter barrado a cabeça ("é champô") e as costas ("é protector solar") com areia húmida, o Manuel (4 anos) perguntou quem tinha escrito aqueles poemas que eu estava a ler. Expliquei que não eram poemas, mas pequenas histórias (para ele uma mancha gráfica pequena é um poema). Tratava-se da "Biblioteca personal" do Jorge Luis Borges. Depois de lhe ler um bocadinho, pediu-me que lhe repetisse o nome do senhor que escreveu aquela história. Jorge Luis Borges. Notou que o pai também se chama Jorge. Daí até concluir que o pai se chama não só Jorge, mas Jorge Luis Borges foi um instante. Disse e repetiu, porque parece ter gostado da sonoridade, que o pai se chama Jorge Luis Borges. E não deixa de ser uma honra, ser cunhado do Jorge Luis Borges.
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