É certamente ousado classificar o Partido Democrático dos EUA como um partido de esquerda. É, no entanto, a categoria onde mais facilmente se encaixa, quando se tenta classificá-lo de acordo com a taxonomia política europeia. Está mais perto do Labour do que dos Tories, se a comparação for feita com a política britânica.
Vem todo este relambório a propósito, como já se deve ter imaginado, das eleições intercalares americanas da passada Terça. A retumbante vitória democrata na Câmara dos Representantes e a maioria alcançada no Senado não podem deixar de animar aqueles que, como eu, são visceralmente antibushistas, mas de modo nenhum antiamericanos. Depois da assustadora vaga da extrema-direita religiosa, encabeçada pelo Bush filius, que até diz que fala com o seu deus, parece - repito: parece - chegar de novo a hora da América moderada, democrática, mais respeitadora dos direitos humanos.
A reacção republicana foi a esperada: fuga para a frente. Acossado por todos os lados, perante o recrudescimento das vozes contra a guerra, Bush filius pede agora aos Democratas que apresentem um plano alternativo, para se sair do atoleiro iraquiano. Acontece que os Democratas não têm de dar plano nenhum. Devem, é certo. Fá-lo-ão, sem dúvida. Mas não têm de o fazer. É que o problema não foi criado pelos Democratas: foi criado pelos Republicanos, são os Republicanos, com Bush filius à cabeça, que têm de encontrar e pôr em prática uma solução. Foram os Republicanos, com Bush filius à cabeça, atiçado pelo agora demitido Rumsfeld (de hoc alias), que fizeram por puro capricho, como se veio a ver, aquilo que nunca deveria ter sido feito: a invasão do Iraque. Criaram o problema, agora rersolvam-no. Exigir solução aos Democratas é um pouco como aquele menino que parte um vaso caro, depois de sobejamente avisado para ter cuidado, e que depois vai ter com o irmão mais novo e lhe exige que arranje uma solução.
A propósito da demissão de Rumsfelt, apetece dizer o tão americano I told you so. O ideólogo da guerra no Iraque, o senhor que andou há uns anos a vender armas a Saddam para ele massacrar curdos e xiitas, afinal o senhor Rumsfelt estava errado (como qualquer criança de 6 anos percebeu na altura), e foi posto no olho da rua - a mais eloquente assunção de que invadir o Iraque foi, como era óbvio para qualquer pessoa com QI médio, um tremendo disparate. Agora só falta o Bush filius e a sua entourage. É que andou meio mundo a avisá-los sobre o disparate e os perigos que repsentariam a invasão do Iraque, e eles não ligaram nenhuma. Quiseram agir sós, orgulhosamente sós, desprezando aliados e a própria ONU. Agora estão atolados até ao pescoço e querem ajuda. I told you so.
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