Agora que frequento mais assiduamente, para almoçar, os bares da FLUL e da Biblioteca Nacional, começo a dar ainda mais valor aos meus 30-40 quilos perdidos em pouco mais de 2 anos, bem como aos resultados das minhas últimas análises ("de fazer inveja, esse colestrol", disse o médico), e sobretudo a perceber o espanto generalizado por tão radical emagrecimento: realmente é difícil perder peso quando nestas instituições públicas as ementas variam entre o Porco au Colestrol, a Mixórdia Não Identificável à la Aterosclerose, e os Bifinhos AVC. Eu lá pego no tabuleiro, mas, como não tenho vocação suicida, rejeito com olhares sobranceiros aquelas armas de destruição massiva, e peço uma saladinha ofendida, acompanhada de arroz branco ("poucochinho, faxavor"). Há uma senhora de uma simpatia indescritível, no bar da Biblioteca Nacional, que me olha com compaixão e sussurra, penalizada, "ah, o senhor é vegetariano", acompanhando às vezes com um gesto a abençoar uma mixórdia afogada em molhos de aspecto suspeito, onde flutua um reconfortante papel, já transparente de gordura, a berrar "Prato vegetariano". Eu costumo explicar, de modo a que à volta me ouçam e se arrependam, enquanto é tempo, dos seus pratos de gordura polvilhados de carne ou peixe módico, que não, que não sou vegetariano, que como tudo o que me puserem à frente, desde que seja grelhado ou cozido, desde que não esteja a boiar em óleo ou estrangulado em gordura. Bom, dispenso porco, é certo, mas como estou farto de que me perguntem se é por motivos religiosos e de responder que não, que é apenas por amor à vida e respeito pelas minhas educadas e exigentes papilas gustativas, já desisti de referir a excepção, e se me puserem uma costeletazita (*) de suíno à frente ainda sou capaz de tapar o nariz, conter o vómito e engoli-la sem mastigar muito - desde que seja grelhada e eu tenha muita muita muita fome.
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(*) "Costoleta"?! Ai sim? É de onde? Da costola?
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(*) "Costoleta"?! Ai sim? É de onde? Da costola?