sexta-feira, maio 29, 2009

Ignomínia


Eu continuo solteiro, ninguém me pega. E desconfio que um grande obstáculo é não ter paciência para a bicharada, mas sobretudo o facto de andar com um carro com duas cadeirinhas de criança. Há dias dei a última machadada na minha imagem de solteirão, já sem falar na dignidade do meu carro, ao prantar este pára-sol com a Hello Kitty. Do outro lado está o Noddy, que sempre é um pouco mais másculo, mas não menos aviltante do meu celibato forçado.

quarta-feira, maio 27, 2009

Campions!


Catalunya triomfant,
tornarà a ser rica i plena.
Endarrera aquesta gent
tan ufana i tan superba.


(Hino da Catalunha)


Quando se diz que “o Porto é uma nação” esquece-se de que nação a sério é a Catalunha, com língua, cultura e história próprias, e o Barça é o seu representantes máximo. E não estou a falar de futebol. Comparar o bairrismo portuense, legítimo mas não menos provinciano por isso, com o nacionalismo catalão, alicerçado, repito, em língua, cultura e história próprias, só revela pouco conhecimento da realidade espanhola no que respeita às diferentes nacionalidades que a compõem. Mais do que uma equipa de futebol, o Barça é o grande embaixador do nacionalismo catalão, como se viu recentemente na final da Taça do Rei, onde os seus adeptos – juntamente com os adeptos do Athletic, o equivalente basco – vaiaram e assobiaram o hino espanhol.

Assim, como todas as vitórias do Barça, a desta noite é não uma vitória espanhola, mas uma vitória da Catalunha, simbolizada nas inúmeras bandeiras catalãs do Olímpico de Roma, e na bandeira catalã que o Piqué tem ao pescoço quando a taça é levantada (que só por distracção pode ser confundida com a espanhola, apesar de as cores serem parecidas) e, antes disso, na conferência de imprensa que antecedeu o jogo, onde Guardiola fez questão de falar em catalão (e numa língua que de início me pareceu basco, mas afinal era inglês mesmo). O mesmo Guardiola que gostava de dizer que “la meva selecció ets el Barça” (a minha selecção é o Barça).

A história da Catalunha está, além disso, intimamente ligada à de Portugal, nomeadamente à Restauração de 1640. Na verdade, o êxito da revolta portuguesa só foi possível porque poucos meses antes a Catalunha se tinha levantado contra os espanhóis. Ambas as revoltas, a portuguesa e a catalã, foram prestavelmente patrocinadas pela França, que se envolvia numa guerra sem quartel contra Espanha, no contexto da Guerra dos 30 Anos, e a quem interessava desestabilizar eternamente o inimigo. Aproveitando a deslocação de efectivos militares espanhóis para a Catalunha, foi relativamente fácil aos apoiantes do Duque de Bragança levarem a bom termo a revolta. E, claro, ajudou muito o facto de Filipe IV ter sido forçado a optar entre Portugal e Catalunha, não podendo acudir aos dois lados ao mesmo tempo. Assim optou, obviamente, pela Catalunha, e só quando a conseguiu pacificar, em 1652, e sobretudo com o fim da guerra com a França, em 1659, é que decidiu avançar em força para Portugal. Demasiado tarde. Quase 20 anos apenas com escaramuças fronteiriças e uma batalha importante, em 1644, na localidade espanhola de Montijo, Portugal tinha tido mais que tempo para se reorganizar, e vencer categoricamente as outras 4 grandes batalhas, e ficar em posição de força para a assinatura da paz em 1668. Os apoiantes da Restauração, de resto, bem cedo reconheceram o papel fundamental da Catalunha, como já dizia o Pe. António Vieira no Sermão dos Bons Anos (1 de Janeiro de 1642):

“Se Portugal se levantara enquanto Castela estava vitoriosa, ou, quando menos, enquanto estava pacífica, segundo o miserável estado em que nos tinham posto, era a empresa mui arriscada. Eram os dias críticos e perigosos; mas como a Providência Divina cuidava tão particularmente de nosso bem, por isso ordenou que se dilatasse nossa restauração tanto tempo, e que se esperasse a ocasião oportuna do ano de quarenta, em que Castela estava tão embaraçada com inimigos, tão apertada com guerras de dentro e de fora; para que, na diversão de suas impossibilidades, se lograsse mais segura a nossa resolução. Dilatou-se o remédio, mas segurou-se o perigo. Quando os Filisteus se quiseram levantar contra Sansão, aguardaram a que Dalila lhe tivesse presas e atadas as mãos, e então deram sobre ele. Assim o fizeram os Portugueses bem advertidos. Aguardaram a que Catalunha atasse as mãos ao Sansão que os oprimia, e como o tiveram assim embaraçado e preso. então se levantaram contra ele tão oportuna como venturosamente.”

E já chega de cultura, que hoje é dia de festa. Visca el Barça! Visca Catalunya!


P.S.: o actual hino da Catalunha, de que coloquei no início os primeiros versos, é parte de um texto do século XVIII que relata, precisamente, a revolta de 1640. As partes mais sangrentas e anti-espanholas não são cantadas hoje.

[em simultâneo no Facciosos]

Acabar bem o dia . 12

Ilustração: Charles Beaubrun

Marin Marais (1656 - 1728), Improvisation sur les Folies d'Espagne

Acabar bem o dia . 11


Já se tinha ouvido isto por aqui. Agora vai a primeira versão que ouvi. Não no filme, que ainda não vi, mas num belíssimo CD (com uma capa medonha) comprado na Valentim de Carvalho no início dos anos 90.

Martín y Coll (c. 1660-1734), Diferencias sobre las folías Hespèrion XXI, Jordi Savall

Ouvir música aqui

terça-feira, maio 26, 2009

segunda-feira, maio 25, 2009

A prisão do ético

Mais uma grande crítica a A prisão do ético, do Paulo Rodrigues Ferreira, agora do valter hugo mãe. E eu fiquei outra vez feliz e orgulhoso quase como se fosse eu.

Palinódia

Uma das cartas mais divertidas da Correspondência de Fradique Mendes, que li no início dos anos 90 numa edição de 1919, comprada num alfarrabista lisboeta, vem-se sempre à memória quando ouço tugas a falar portunhol convencidos de que estão a fazer um brilharete. Lembrei-me dela, por exemplo, quando o Queiroz era treinador do Real Madrid, ou quando o Durão Barroso (a. k. a. José Manuel Barroso) era líder do PSD e berrou apopléctico "Viva Espanha" num comício do Aznar, ou depois da lamentável figura do Sócrates ontem, num comício do PSOE. Neste último caso a releitura da carta teve um efeito catártico, na medida em que me vai permitir votar no PS descansado, sem ser assombrado pela recordação daqueles minutos humilhantes.

Deixo aqui algũs excerptos, na orthographia original, para os resistentes ao accordo orthographico (nos quaes, como se sabe, nam me incluo).

A MADAME S.
Paris, Fevereiro.
Minha Cara Amiga -- O hespanhol chama-se D. Ramon Covarubia, mora na Passage Saulnier, 12, e como é aragonez, e portanto sobrio, creio que com dez francos por lição se contentará amplamente. Mas se seu filho já sabe o castelhano necessario para entender os Romanceros, o D. Quixote, alguns dos «Piccarescos», vinte paginas de Quevedo, duas comedias de Lope de Vega, um ou outro romance de Galdós, que é tudo quanto basta lêr na litteratura de Hespanha, para que deseja a minha sensata amiga que elle pronuncie esse castelhano que sabe com o accento, o sabor, e o sal d'um madrileno nascido nas veras pedras da Calle-Mayor? Vai assim o dôce Raul desperdiçar o tempo que a Sociedade lhe marcou para adquirir idéas e noções (e a Sociedade a um rapaz da sua fortuna, do seu nome e da sua belleza, apenas concede, para esse abastecimento intelectual, sete anos, dos onze aos dezoito) -- em quê? No luxo de apurar até a um requinte superfino, e superfluo, o mero instrumento de adquirir noções e idéas. Porque as linguas, minha boa amiga, são apenas instrumentos do saber, como instrumentos de lavoura. Consumir energia e vida na aprendizagem de as pronunciar tão genuina e puramente, que pareça que se nasceu dentro de cada uma d'ellas, e que, por meio de cada uma, se pediu o primeiro pão e agua da vida -- é fazer como o lavrador que em vez de se contentar em cavar a terra com um ferro simples encabado n'um pau simples, se applicasse, durante os meses em que a horta tem de ser trabalhada, a embutir emblemas no ferro e esculpir flôres e folhagens ao comprido do pau. Com um hortelão assim, tão miudamente occupado em alindar e requintar a enxada, como estariam agora, minha senhora, os seus pomares da Touraine?

Um homem só deve fallar, com impeccavel segurança e pureza, a lingua da sua terra: -- todas as outras as deve fallar mal, orgulhosamente mal, com aquele accento chato e falso que denuncia logo o estrangeiro. Na lingua verdadeiramente reside a nacionalidade; -- e quem fôr possuindo com crescente perfeição os idiomas da Europa vai gradualmente soffrendo uma desnacionalização.


Eça de Queiroz, A correspondencia de Fradique Mendes: memorias e notas. Liv. Chardon, Porto, 1900. pp. 137-139

Portanto o nosso Primeiro-ministro apenas seguiu os conselhos do Eça, e assim provou o seu patriotismo, e eu vou poder votar nele tranquilo, sem que me ecoem nos ouvidos as cacofonias portunhólicas da sua intervenção no comício do PSOE.

domingo, maio 24, 2009

Começar bem o dia . 14

Ilustração: Jacques Blanchard

Anónimo (Philidor), Bourée d'Avignonez
Hespèrion XXI
Jordi Savall

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Vergüenza

O portunhol do nosso Primeiro-ministro ontem em Espanha foi a maior humilhação portuguesa frente aos espanhóis, desde a batalha de Alcântara, em 1580. O tuga tem a mania de que sabe falar espanhol, e depois faz aquelas tristíssimas figuras. Vou ter de levar os fones com música bem alta, quando for votar no PS nas próximas legislativas, para não levar nos ouvidos aquela humilhação.


[na foto: o Duque de Alba]

sexta-feira, maio 22, 2009

Toma toma







Eu sei que é feio fazer pirraça, mas isto chegou-me hoje pelo correio, e eu vou passar as próximas horas a cheirar o papel, e a passar os dedos devagarinho pelas folhas, e ler um a um todos os poemas e. Ups.

quinta-feira, maio 21, 2009

Começar bem o dia . 14

Ilustração: Johann Baptist Zimmermann

J. S. Bach (1685-1750), Toccata BWV 914
Gustav Leonhardt

Ouvir música aqui

É ciúmes a Cidra,
E indo a dizer ciúmes disse Hidra,
Que o ciúme é serpente,
Que espedaça seu louco padecente,
Dá-Ihe um cento de amor o apelido,
Que o ciúme é amor, mas mal sofrido,
Vé-se cheia de espinhos e amarela,
Que piques e desvelos vão por ela,
Já do forno no lume,
Cidra que foi zelo, se não foi ciúme,
Troquem, pois, os amantes e haja poucos,
Pelo zelo de Deus, ciúmes loucos.

Soror Maria do Céu (1658-1753)

quarta-feira, maio 20, 2009

Do populismo e da falta de memória

Durão Barroso, a.k.a. José Manuel Barroso, diz que "Ceder à pressão populista contra os imigrantes é mau para a Europa". Eu concordo em absoluto. Pena foi que, enquanto Primeiro-ministro de Portugal, em coligação com o populista Paulo Portas, tenha sido esse mesmo Durão Barroso, a.k.a. José Manuel Barroso, a aprovar a actual lei das quotas de imigração, que restringe a imigração de extra-comunitários. E para quem tem memória curta, era ele Primeiro-ministro quando o seu Ministro da Defesa, Paulo Portas, conhecido pelas suas posições na matéria, berrou inflamados "Imigração zero" e "Portugal aos portugueses", num comício do seu partido, então no governo liderado por Durão Barroso, a.k.a. José Manuel Barroso, que na altura não achou que tal fosse uma pressão populista.Link

segunda-feira, maio 18, 2009

On the Road from w20 on Vimeo.


É de graça e é imperdível. Vi-os desaparecer na noite, de Tiago Gomes e Tó Trips. Aqui.

Leituras

O José Mário Silva lembra alguns textos de A Prisão do Ético, do Paulo Rodrigues Ferreira, que me dá a honra de ser meu amigo. E eu fico contente e orgulhoso de o ver lido, quase como se fosse eu.

A estrada de Damasco (*)

Não sei se foi finalmente efeito das doses diárias de cultura, que culminaram há dias numa audição integral do Orfeu de Monteverdi, dirigido pelo Savall, mas a verdade é que o Benfica teve a primeira baixa, ainda antes do Quique: a minha sobrinha, que até nasceu no dia de uma derrota do Sporting (**), e que até ontem permanecia fiel à lampionagem por via paterna, hoje chamou-me de parte, e disse convicta "sabes, eu agora sou do Sporting". Fi-la repetir 3 vezes, não fosse algum galo cantar (***), e como só ouvi o guincho escandalizado da minha mãe lampiã, dei-me por satisfeito, enxuguei a lágrima, e amanhã vai já um equipamento completo, se me tiver sobrado alguma coisa na conta, depois da Feira do Livro.

publicado em simultâneo aqui
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(*) Pelamordeus, isto devia ser uma alusão transparente, num país onde saem milhares para a rua a celebrar os anos de uma estátua religiosa.
(**) 29 de Setembro de 2005, em casa, com o Halmstadt.
(***) Vide primeira nota.

Colheita '09



Parte da colheita deste ano da Feira do Livro. O resto está já arrumado nas estantes, e não me apeteceu ir desarrumar tudo só para vir aqui arrotar uma posta de pescada.

sábado, maio 16, 2009

Extraordinário


A líder do PSD acha, na entrevista à RR/Público, que o défice será superior às previsões da UE. Vindo de alguém que, quando era ministra das finanças, numa situação internacional de crescimento económico, só conseguiu (pelo menos oficialmente) controlar o défice recorrendo a medidas extraordinárias, pode-se dizer que é de uma lata também ela extraordinária.

sexta-feira, maio 15, 2009

O tempora

Passámos, eu e o Manuel (n. Novembro de 2006), parte da tarde a ouvir a ópera Semele, de Haendel, e pelo meio ia-lhe lendo Bocage e Almeida Garrett e D. Francisco Manuel de Melo. Não adianta. Ele diz que "gotha muito", mas por mais que o exponha a alta cultura ele continua a dizer que "o Benfica é que é bom". Talvez seja tempo de desistir de tantas óperas e literaturas. Não vá ele ficar como eu, e não me refiro às opções culturais.

P.S.: a foto é de outra exposição vã a coisas boas.

أنت عمري


O Manuel (n. Novembro de 2006) delira com esta música, a que chama "as pandeiretas", e chora em desespero quando, chegando a casa, desligo o leitor de CD do carro. Um fã inesperado da Umm Kulthûm

Notas sobre o 13 de Maio . 2


καὶ οἱ λοιποὶ τῶν ἀνθρώπων οἳ οὐκ ἀπεκτάνθησαν ἐν ταῖς πληγαῖς ταύταις οὐδὲ μετενόησαν ἐκ τῶν ἔργων τῶν χειρῶν αὐτῶν ἵνα μὴ προσκυνήσουσιν τὰ δαιμόνια καὶ τὰ εἴδωλα τὰ χρυσᾶ καὶ τὰ ἀργυρᾶ καὶ τὰ χαλκᾶ καὶ τὰ λίθινα καὶ τὰ ξύλινα, ἃ οὔτε βλέπειν δύνανται οὔτε ἀκούειν οὔτε περιπατεῖν καὶ οὐ μετενόησαν ἐκ τῶν φόνων αὐτῶν οὔτε ἐκ τῶν φαρμάκων αὐτῶν οὔτε ἐκ τῆς πορνείας αὐτῶν οὔτε ἐκ τῶν κλεμμάτων αὐτῶν

e os restantes homens, que não foram mortos por estas pragas, não fizeram penitência das obras das suas mãos, de modo a não adorarem demónios, e ídolos de ouro e de prata e de bronze e de pedra e de madeira, que não podem ver, nem ouvir, nem andar; e não fizeram penitência pelos seus crimes, nem pelos seus encantamentos, nem pela sua luxúria, nem pelos seus furtos.

Apocalipse, 9:20

A tradução é minha, admito que com falhas (o meu grego está um pouco esquecido), mas não há dúvidas: o livro santo dos cristãos não permite a adoração de estátuas. Et pourtant...

Acabar bem o dia . 10


Jean-Philippe Rameau (1683 - 1764), Pièces de Clavecin en Concert
Primeiro Concerto
Mitzi Meyerson (cravo)
Monica Huggett (violino)
Sarah Cunningham (viola da gamba)

quarta-feira, maio 13, 2009

Notas sobre o 13 de Maio . 1

Quando entrei em casa da minha mãe, lampiã contumaz, e a vi embevecida a olhar para um ecran de TV recheado de lenços brancos, pensei que estavam a repetir o final dos últimos jogos do benfica no Galinheiro. Afinal era só o 13 de Maio em Fátima, data que a nação lampiã nos últimos anos comemora ferverosamente, embora normalmente antes da data canónica.

terça-feira, maio 12, 2009

Bronco

Cinco minutos? Estava difícil? O meu amigo não fez cópias na escola? Diz que ajuda a desenvolver capacidades de escrita. De qualquer forma, um "X" talvez demorasse menos de cinco minutos, e é considerado legal como assinatura.

segunda-feira, maio 11, 2009

Acabar bem o dia . 09


Juan Cabanilles (1644-1722), Corrente Italiana
Hespèrion XX
Jordi Savall


Ouvir música


Eu ouvia isto e ouvia e tornava a ouvir e não me cansava de ouvir. Comprei o CD, se bem me lembro, na falecida Valentim de Carvalho do Rossio. Depois gravei numa cassete que me acompanhava nas viagens para Lisboa, depois para Mafra e para Caldas da Rainha, onde dei aulas nos dois primeiros anos de actividade. Mais de uma década depois ouço outra vez e não paro de ouvir.

Faz o que eu digo...

O Papa Ratzi "apela a que o Holocausto nunca seja esquecido". Eu concordo. Mas acho que o esforço de memória devia começar em casa, e o líder dos católicos devia ter puxado um bocadinho pela dita cuja antes de levantar a excomunhão ao execrável bispo negacionista.

Isso mesmo

O Manuel (2 anos e meio) ao ver a festa dos morcões no Estádio do Morcão disse "parecem cabeçudos". Eu não teria dito melhor.

domingo, maio 10, 2009

Começar bem o dia . 13

Couperin (1626-1661), Allemande et Courante Gustav Leonhardt

Ouvir música aqui

Ilustração: Philippe de Champaigne

Pavor


A Manuela diz que se vive um clima de medo em Portugal. E tem razão: depois do que passámos quando foi ministra das finanças, não há muito tempo, eu tenho um medo desesperado de que ela volte ao poder.

179


Demorou uma série de dias, até porque eu tenho mais que fazer, mas já está: passei para mp3 toda a minha colecção de CD de música antiga. São 179, desde o canto bizantino do século VII ao barroco do século XVIII. A colecção foi sendo feita sobretudo na primeira metade da década de 90 do século passado. São 179. Pensava que eram mais, fico um bocadinho desiludido.

quinta-feira, maio 07, 2009

Bilhete de identidade


Um novo poema de Mahmûd Darwîsh traduzido por mim, aqui.

A coquilha


Sentido, talvez, por lhe ter questionado a futura virilidade, o Manuel ontem por pouco não me emasculou com um pontapé bem medido, enquanto lhe mudava a fralda. Não vá o diabo tecê-las, amanhã a ver se compro uma coquilha.

terça-feira, maio 05, 2009

45/46


Não é que os tenha excessivamente grandes. Pelo menos quase todos os homens que conheço dizem tê-los pelo menos com o mesmo tamanho. Mas eu começo a achar que é como o velho lugar comum dos pescadores e do tamanho do peixe. Porque sempre que entro numa sapataria ou casa de artigos de desporto, a possibilidade de achar um sapato 45/46 é mais reduzida ainda do que a de o Benfica acabar um campeonato à frente do Sporting, na última década. De vez em quando lá acontece, muito raramente, mas confesso que não me lembro já da última.

Hoje fui a uma daquelas lojas de sapatos que anunciam ter tudo ao mais baixo preço. A ideia era comprar uns ténis (dos sapatos normais há muito desisti, não se fazem para o meu número). Mas nada. O costume. Lá achei, com dificuldade, uns sapatos de marca, obscenamente caros, mas com uma boa promoção. Mas não se pode ter tudo: um mísero 44. Entornei com dificuldade os pés lá dentro, e fiquei assim tipo aquelas chinesas do século passado que enfaixavam os pés para eles ficarem pequeninos. O problema é que eu ando a enfaixar os meus em sapatos de número abaixo do meu há quase 20 anos, e nada de mirrarem.

Há, porém, uma coisa que me continua a fazer imensa confusão: os miúdos de hoje são enormes, normalmente mais altos do que eu, é de supor que tenham pés proporcionais. E eles dizem que têm, mas eu nunca lá fui de régua em punho. E se é verdade, eu gostava muito de saber onde compram sapatos. Porque eu já corri tudo, desde as lojas de marca aos mercados. E para achar, na última década, sapatos que me servissem tive de mandar vir dos EUA, onde pelos vistos há mais gente como eu.

P.S.: lá comprei a porcaria dos ténis; entre esmagar os pés nos ténis velhos, já a ficarem sem sola, e esmagá-los nuns novos, as escolhas não são muitas.

P.P.S.: ainda se a lenda urbana de o tamanho dos pés corresponder ao tamanho de outras secções anatómicas fosse certa, eu nem me queixava muito - mas eu garanto que é embaraçosamente errada.

Acabar bem o dia . 08



Alessandro Scarlatti (1660-1725), Folia Giannalisa Arena

Ouvir música

Mais uma soberba variação sobre as "folias".

domingo, maio 03, 2009

Começar bem o dia . 11



J. S. Bach, Cantata "Zauchzet Gott in allen Landen" (BWV 51)
English Baroque Soloists
Emma Kirkby
John Elliot Gardiner


Versões com qualidade superior:

Parte 1
Parte 2
Parte 3

Gosto especialmente da última secção (3:31 do terceiro vídeo)

Começar bem o dia . 10


Henry Purcell (1659-1695), Música para o funeral da Rainha Maria


A feira do coiso

Ir à Feira do Livro ao fim-de-semana faz-me muito mal à misantropia, maleita de que padeço desde que me conheço. Mas eu, que por conselho médico só devia lá ir durante a semana, e de preferência a horas mortas, quando há menos gente, não tenho emenda, e lá me vou içando Parque acima, arfando e bufando de impaciência no pescoço daquele gente toda que resolveu sair de casa ao mesmo tempo só para me chatear, irra, e qualquer dia passo-me como o Pepe e não respondo por mim. E vou descontando a irritação em compras, e ainda estamos no princípio do mês e o ordenado já está em grande, muito grande parte a forrar os bolsos dos senhores editores. Que ferro.