quinta-feira, julho 30, 2009

De senectute

eu, em 1990, aos 18 anos, segundo um amigo que quando fez o desenho só me conhecia de vista

Passei hoje por um cartaz publicitário qualquer que dizia qualquer coisa do tipo "e se voltasse a ter 17 anos". Eu, como tenho uma mente demasiado ociosa, pus-me a pensar e veio-me imediatamente a imagem do puto-eu de há 20 anos, de cabelo no ar uns bons 10 centímetros encharcados em gel, brincos às dúzias a escorrer das orelhas esticadas pelo peso (juro), expressão permanentemente enfadada debaixo das borbulhas, as t-shirts pretas, as calças rotas e os joelhos sempre à mostra, as botas militares ou de biqueira de aço ou de plataforma, o andar encurvado. Depois lembrei-me da escola, de como toda a gente olhava para mim com um misto de medo e perplexidade (eram os anos 80, não se viam coisas destas na província), dos intervalos entornados com outros 2 ou 3 "outcasts" nas traseiras da escola a fumar cigarros e a murmurar como a sociedade era injusta e não nos percebia. E de quando fui fazer as provas específicas de Latim e de Grego à FLUL, no Verão de '89, e de como os outros examinandos me olhavam de lado e eu percebi que tinha de apresentar um ar mais civilizado quando as aulas começassem para não ser outra vez um "outcast".

Lembrei-me disto tudo e rosnei um "irra deusmalivre". Depois reparei no que significava aquilo que tinha acabado de praguejar, e fiquei deprimido para o resto do ano.

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