quarta-feira, maio 12, 2010

Da alparca de Deus, ou de como já não se fazem frades desta qualidade


Ainda na mesma carta a D. João IV, de 28 de Janeiro de 1656, o embaixador Sousa Coutinho, em plena guerra militar mas sobretudo diplomática com Espanha, na sequência da Restauração, fala da bravura de um frade franciscano português, imaginativamente chamado Francisco de Assis, perante os ataques verbais de um frade espanhol, que chamava apenas "Duque de Bragança" a D. João IV, recusando-se assim reconhecê-lo Rei.

Estes fidalgos homiziados que aqui andam o tomaram tão pesadamente que, se os eu deixara, queriam tirar satisfação do castelhano; aquietei-os com lhes dizer que de castelhanos não podíamos esperar outro tratamento: que no que se nos não dizia em nossa presença nos não faziam agravo algum, que a ser nela, que não só deles esperaria eu a boa conta que diriam de si, mas que de qualquer dos seus criados, como havia feito frei Francisco de Assis, que é um frade franciscano da Província de Enxobregas, irmão de Manuel Alves Carrilho, português tão desatinado que um destes dias em Ara Coeli, que é o convento em que está, porque houve um frade castelhano que quis usar dos mesmos termos do Duque de Bragança, saltou nele descalçando uma alparca, e moeu com ela de maneira que se lho não tiram das mãos, houvera de sair delas em muito mau estado: o Assis esteve preso alguns dias, mas pôs os castelhanos em estado que diante dele nenhum falava.

Carta de Sousa Coutinho a D. João IV, de Agosto ou Setembro de 1656
in Corpo Diplomático Português, vol. XIII
pp. 229 & seqq.

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