sábado, maio 08, 2010

Dos livros que matam

Não consigo abrir um livro sem terror: acredito que a literatura mata.
Pedro Eiras

A propósito da apresentação das Substâncias Perigosas de Pedro Eiras, hoje, na Trama, e do tema da literatura que mata, lembrei-me da história de al-Jâhiz (*), grande estudioso árabe que nasceu em Baçorá, actual Iraque, por volta de 781. Foi este al-Jâhiz um tremendo estudioso, que tinha um terrível vício: ler. Ler muito. Conta-se que pagava aos livreiros de Bagdade, onde viveu grande parte da sua vida, e de Baçorá para o deixarem pernoitar nas suas livrarias, no meio dos livros, que lia horas a fio, até ser dia. O que talvez tenha vindo a ser a sua desgraça. E é com isto que regresso à frase que serve de epígrafe a esta nuga. É que não terá sido a literatura a matar, em 869, al-Jâhiz, mas, muito mais prosaicamente, uma pilha de livros mal equilibrados que se abatera sobre ele.


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(*) Correctamente a transcição é al-Jâḥiẓ (الجاحظ). O nome é, na verdade, uma alcunha. A palavra significa qualquer coisa como "de olhos esbugalhados" - mal que ataca muito boa gente que gosta de ler.

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