domingo, março 29, 2009

A prisão do ético


É no dia 4 de Abril, às 16:00, o lançamento na Livrododia (Torres Vedras) do livro A prisão do ético, de Paulo Rodrigues Ferreira. A edição é da Livrododia Editores, e eu, que já o tenho, posso garantir que é imperdível.

sexta-feira, março 27, 2009

A cidade e as bestas

Quando li As Cidades e as Serras a minha simpatia e compreensão recairam desde as primeiras linhas em Jacinto, o homem da cidade. E foi com uma mistura de tristeza e coração atraiçoado que o vi evoluir no sentido da rejeição da vida urbana. A mim o campo põe-me doente. Física, mas sobretudo mentalmente. O isolamento, a apatia, a inanição intelectual. Um horror. Há pouco tempo descobri mais um defeito: a absoluta falta de civismo dos condutores. Estou habituado a conduzir apenas em aglomerados urbanos ou próximo de centros urbanos. Apesar da tradicional falta de consideração do condutor português, que se traduz sobretudo em carros mal estacionados e em segundas filas, vigora apesar de tudo o civismo e um mínimo de educação. Mas quando comecei a conduzir para casa da minha irmã, em pleno Oeste rural, comecei a perceber os números assutadores da sinistralidade rodoviária: excesso de velocidade, ultrapassagens delirantes, total falta de respeito pelas mais elementares regras de segurança, e uma enorme, tremenda má criação. É este o campo português? Minha rica cidade!

terça-feira, março 24, 2009

Asma nas teclas



Quando me diagnosticou asma, a alergologista pediu-me que fizesse uma série de exames. Um deles media a minha capacidade respiratória. Quando lho entreguei, despejou o nariz na papelada e regougou se por acaso sentia dificuldades respiratórias. Respondi-lhe que não, que sempre tinha respirado bem. Alvejou-me com um dos olhos, e berrou triunfante que eu sempre tinha tido problemas respiratórios, mas que como não tinha uma referência de comparação, achava que respirava bem. Era como se sempre tivesse visto o mundo a 2 dimensões e alguém me tentasse explicar como é o mundo a 3 dimensões. Apenas poderia fazer uma pequeníssima ideia.

Vem isto a propósito de mais uma aventura a utilizar um computador com Windows. Familiares e amigos não conseguem compreender porque é que bufo, resmungo, suo e às vezes até grito quando tenho de ser submetido a tal prova. Aos meus desesperados "esta merda nunca mais abre" respondem com "mas até está a abrir depressa" perplexos. Quando ao fim de 10 segundos de espera para encerrar o computador me impaciento, não conseguem entender o meu bufar irado. Se um programa deixa de responder e rebenta, parece-lhes tão natural como lavar os dentes ao deitar, e não concebem a razão do meu espanto e revolta.

No fundo é como eu com a minha asma: não tendo ponto de referência, achei sempre que respirava tão bem como um atleta de alta competição, e no fim tinha pouco mais do que a capacidade respiratória de um velho de 90 anos.

Lembrei-me de novo de tudo isto quando tentava em desespero consultar o meu email, no Windows da minha irmã. Ao fim de várias tentativas e murros furibundos no teclado consegui, não sem antes ter sido forçado a reiniciar o Firefox e o IE duas ou três vezes. Eu estou habituado, no meu Linux, a carregar no ícone do Firefox e ele abrir sem que eu tenha tido tempo de largar o rato. Depois de conseguir por fim que o IE estabilizasse, abri o Blogger para começar a escrever esta entrada. Desisti a meio da segunda linha, exasperado com o rosnar constante do disco, com o folclore das luzinhas de actividade a cegar-me, com o cursor a bloquear regularmente durante alguns segundos. Carreguei então várias vezes na cruzinha para fechar a janela e bater com a porta do escritório da mana. Quando por fim o sistema se dignou obedecer-me, fui mastigar o bolo de anos do meu cunhado e ruminar irritações.

Agora, já no meu Linux, tudo obedece, em fracções de segundo. As luzinhas de actividade estão numa modorra imperturbável. O cursor não pára. O Firefox abriu tão depressa que quase podia jurar que ainda antes de clicar já estava aberto. E não consigo entender (e juro que me esforço) como é que há quem ainda prefira sistemas operativos caros ou pirateados, e que demoram o triplo, às vezes o quíntuplo, do tempo a fazer as mesmas coisas. Nem sempre com a mesma eficiência.

A minha mãe, que vai a caminho dos 63 anos, era uma dessas pessoas. Encarava os vírus, os programas bloqueados e a rebentarem sem explicação aparente, a lentidão exasperante, a gordura mastodôntica, encarava tudo isso com a mesma naturalidade com que sorve o seu chá nocturno. Um dia, e sem explicação (como é de regra), o seu Windows deixou de funcionar. Propus-lhe instalar um sistema Linux, até encontrar alguém que pudesse instalar-lhe mais um Windows. Cairam-lhe os olhos no chão de susto e bateu no peito em aflição: e o meu messenger? E o meu office? E o meu desktop?

Já se passaram vários meses. Usa o Pidgin, que faz basicamente o mesmo que o Messenger e usa a mesma lista de contactos, mas é menos pesado; o office é agora o OpenOffice, que faz a mesma coisa que o da Microsoft, mas é gratuito; o Firefox é o mesmo que já usava em Windows; o desktop, sendo diferente, faz a mesma coisa, e é mais intuitivo e configurável. Nunca mais me falou em querer o Windows de volta. E aposto que mais dia menos dia também ela bufará quando sofrer o suplício de ter de usar um sistema Windows.

Beati pauperes spiritu

Contei oito alminhas de cartazes em punho e megafone na mão à porta da ES Madeira Torres (Torres Vedras) esta manhã. As palavras de ordem eram as do costume (não às aulas de substituição, não ao regime de faltas, etc.). Depois fiquei muito deprimido. Ainda estou para perceber se por causa da indigência argumentativa e do ridículo das reivindicações daquela meia dúzia, se pela apatia generalizada dos estudantes portugueses, longe dos dias em que enchiam ruas, independentemente da justiça das causas, e eram atacados à bastonada e com cães açulados pelo actual Presidente da República.

sábado, março 07, 2009

A lapa

Quem está mal muda-se, sempre ouvi dizer. Mas o Sr. Alegre, que há muito se sente mal no PS, não se muda nem sai. Não vota com o partido de que é deputado, juntando-se à oposição, mas não se muda nem sai. Não apoia o governo que é suportado no parlamento pelo partido de que é deputado, mas não se muda nem sai. Não se candidata à liderança do partido de que é deputado e contra quem vota, mas não se muda nem sai. Não vai ao congresso do partido de que é deputado e contra cuja liderança está, mas não sai. Agora diz que, se pudesse, se candidataria contra o partido de que é deputado, cuja liderança não disputou e a cujo congresso não foi para expor as suas ideias. Mas não se muda. Nem sai.

É como uma lapa chata, agarrada à rocha do seu lugarzinho de deputado, pelo partido pelo qual foi eleito, mas contra o qual queria concorrer. E tem todo o direito de querer, deixemo-lo bem claro. O que não se percebe é porque raio se mantém deputado e filiado no partido contra o qual vota no parlamento, ao lado da oposição, a cujo congresso, onde poderia expor e discutir as suas ideias, se baldou, e contra o qual diz que se pudesse se candidatava.

Helena Roseta, que é uma grande mulher, ao menos levou a sua divergência às últimas consequências, saindo (infelizmente) do partido assim que se sentiu a mais. É que quando se é uma figura de relevo num partido e se está em rota de colisão com a direcção só há duas coisas a fazer: apresentar uma candidatura alternativa, ou sair. Roseta optou pela última solução. Alegre preferiu ficar sem ficar. Não apresentou candidatura alternativa - nem sequer foi a congresso - nem saiu. E é por isso que eu, eleitor socialista, até votaria em Helena Roseta, se se apresentasse como candidata presidencial. Mas em Alegre, em quem nas últimas eleições presidenciais até me senti tentado a votar, agora nem morto, nem com uma mola no nariz. Antes votar em branco (Cavaco nem que viesse deusnossenhor pedir pelamordedeus). É que eu não gosto de lapas.

quarta-feira, março 04, 2009

Da gorduranga

Por mais que que se invista em campanhas de prevenção da obesidade, doenças cardiovasculares, oncológicas e outras, será sempre dinheiro e latim mal gasto, enquanto as cantinas e bares de instituições públicas continuarem a servir apenas bifes a boiar em molhanga gordurosa, bacalhauzadas afogadas em natas, gordura de porco com lascas de carne agarrada e outras armas biológicas de destruição em massa. Nos bares da Faculdade de Letras da UL, por exemplo, a única hipótese para escapar aos instintos assassinos dos responsáveis pelas ementas dos vários bares é pedir para se grelhar um bife (e esperar um bom bocado...), ou então fazer como eu, e pedir um pratinho de arroz branco, uma salada que não esteja infectada com maionese, uma sopinha, e passar fome o resto da tarde.