A minha leitura de praia está decidida: reler o "Ulysses", do Joyce, mas agora no original, na incontornável edição de 1960 da Bodley Head. Não se tome isto por uma tirada pedante. Na verdade eu tenho imensa inveja de quem consegue "desligar o cérebro" e ler coisas leves no Verão. O pretexto costuma ser o de descansar a cabeça de coisas sérias e relaxar. Aí está um conceito que, no meu fraco entendimento, não consigo alcançar, daí a minha triste sorte de só conseguir ler coisas boas e estimulantes. Eu quando quero descansar de coisas sérias, e sobretudo quando quero relaxar, pego num bom livro. Num livro a sério: num Joyce, num António Lobo Antunes, num Dostoiévski, num Jorge Luis Borges, num Umberto Eco, num Eça, num Platão, num Kafka, eu sei lá, numa coisa que me estimule. É assim que relaxo e me distraio de coisas sérias. Se pegar numa leitura levezinha - e eu já tentei, juro - , em poucos minutos a minha mente acaba por fugir, por falta de estímulo, e volta a prender-se às coisas sérias e às preocupações quotidianas. As letras deixam de fazer sílabas e palavras, e os meus olhos vão passando as páginas sem ler. Ora a única maneira de conseguir que isso não aconteça é se for uma leitura a sério. Por isso tenho imensa inveja de quem consegue "desligar" com leituras leves, de quem consegue ficar com a mente presa a uma leitura inconsequente, sem se distrair, de quem consegue embrenhar-se num Dan Brown, num Paulo Coelho, numa Margarida Rebelo Pinto ou noutros de cujos nomes, الحمد لله (deo gratias), não consigo recordar-me ou nem sequer conheço. Eu não consigo. Por isso estou condenado a só ler coisas boas, interessantes e intelectualmente estimulantes.
2 comentários:
Também me espanta a literatura de Verão, como se quem comprasse cinquenta livros durante o ano só para ler no Verão lesse alguma coisa no Inverno!
Concordo, André. De Verão ou Inverno, só vale a pena ler coisas que nos agarrem.
Mas ainda não consegui agarrar-me ao Joyce.
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