- O PS venceu. Perdeu a maioria absoluta, como era previsível há muito tempo. No entanto, convém recordar que vinha de uma derrota expressiva nas Europeias, e que as sondagens ainda há pouco mais de 15 dias davam um empate com o PSD, que vinha, aparentemente, numa dinâmica de vitória. Havia ainda a crise internacional e nacional, o desemprego a subir. Em Junho houve quem imprudentemente augurasse o fim do "socratismo". Sócrates, goste-se dele ou não, mostrou que está muito longe de morto politicamente, e com uma campanha inteligente e muitíssimo bem gizada (o cartaz dos últimos dias é um prodígio de marketing político), desmentindo ao mesmo tempo todos os que acham que as campanhas nada decidem. Partia numa situação difícil, foi dado como derrotado até a poucas semanas das eleições, mas fez uma campanha notável, e estou convencido de que com mais 1 ou 2 semanas ainda chegava à maioria. Finalmente, o facto de nem o BE nem a CDU poderem fazer, separados, maioria com o PS, é um alívio para Sócrates, que assim deixa de se sentir obrigado a entendimentos à esquerda (o que eu lamento).
- O CDS obteve um resultado histórico, capitalizando os votos da direita e certamente de parte dos eleitores PS em 2005. Fez uma campanha quase tão boa como o PS, e, com uma mestria ousada, conseguiu que o seu líder fosse o último a falar, com um discurso que, conjugado com esse tremendo pormenor, lhe dá de feito um lugar no pódio destas eleições.
- O BE é o terceiro vencedor, embora com resultado aquém do que se esperava. Aumenta muito a sua representação parlamentar, descola da CDU, e assume-se definitivamente como a grande alternativa de esquerda ao PS. Ganha ainda um tremendo trunfo: se as contas não me falham, não consegue formar maioria com o PS. Assim pode sem problemas continuar a fazer do PS, e não da direita, o seu principal inimigo. De resto nem uma palavra se ouviu de congratulação pera estrondosa derrota do PSD, o que é pena.
- A CDU fica assim-assim. Não ganha nada, embora o seu discurso diga o contrário, numa divertida reedição do saudoso ministro de Saddam no dia da tomada do Bagdade. Tal como o BE, não consegue formar maioria com o PS, ficando de mãos livres para continuar a sua luta fratricida contra o PS, ignorando a direita.
- O PSD é o grande derrotado, talvez a mais significativa derrota da sua história. Obtém um resultado semelhante ao de 2005, mas com uma enorme diferença: em 2005 partia fragilizado por um governo impopular, em 2009 era o partido que teoricamente poderia tirar partido da impopularida do governo PS. Vinha de uma vitória nas Europeias, partia lado a lado nas sondagens a 15 dias das eleições. Mas fez uma campanha vazia, sem apresentar ideias nem propostas. Sobrestimou o povão tuga, e achou que já éramos suficientemente civilizadosa para passar sem espectáculo de campanha, sem comícios, sem brindes, sem espalhafato: apresentou uma imagem tristonha, quase fúnebre. Um erro crasso, quando do outro lado estava um mestre nestas artes. Poderia ter contrabalançado com as ideias, mas apresentou um programa vago, e centrou a sua campanha no discurso tipo velho-do-restelo contra o TGV, numa primeira fase, e tipo Quixote contra uma delirante asfixia democrática. Assim, partindo da "pole position", deixou-se ficar para trás, estagnou em termos de votos, não parece ter capitalizado praticamente nenhum voto de descontentamento, que se distribuiu entre o BE e o CDS.
O meu voto, como toda a gente sabe, foi para o PS. Esta vitória soube-me, como estou convencido que a quase todos os socialistas, muito melhor do que a de 2005, que era fácil e previsível. Esta foi difícil, e, tendo em conta as circunstâncias, nada evidente à partida. Espero agora que a esquerda (PS-BE-CDU) se entenda, e que o PS não caia na asneira histórica de se aliar ao CDS, o que me faria deixar de votar no partido.
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