domingo, maio 16, 2010

O Cardeal foi às putas

Continuo a ler, extasiado, as cartas do inigualável embaixador Francisco de Sousa Coutinho (c.1597-1660), que em 1655 conseguiu ser recebido a título particular pelo Papa Alexandre VII, quando Portugal andava desde 1641 (e andaria ainda até 1669) a tentar que os sucessivos Papas se dignassem fechar as pernas a Espanha, e reconhecer a independência conseguida em 1640.

Um dos inimigos de estimação de Sousa Coutinho era o Cardeal Protector de Portugal, de seu nome Ursino. Numa carta de 22 de Abril de 1656, diz mesmo isto ao secretário Gaspar de Faria:

"Mas o que sobretudo sinto é o espanto que toda esta Corte tem desde o Papa até o mais ínfimo, de havermos escolhido um Protector, que é o ludíbrio dos Cardeais, e homem de quem no Colégio se não faz caso algum, e me dezia nestes dias um autorizado que me não espantasse disso, que começara a vida com a caça e com as putas sem tratar de outra cousa, que assim continuava ainda, e assim havia de acabar, e tal como isto é o Protector que temos."


Retirei o texto do Corpo Diplomático Português (volume XIII, página 285) actualizando a ortografia, excepto nos casos em que reflecte a pronúncia da época. A edição é a de 1907.

2 comentários:

Associação para a Defesa e Divulgação do Património Cultural de Torres Vedras disse...

Ora bem, André: algum dia havia de dar com a tua loja. Foi hoje, por interposto Rui M. Prudêncio...
Tens aqui coisas deliciosas. Mais um espaço por onde tenho de passar de vez em quando...
O que vale é que a pilhas de blogues não me caem na cabeça...

André . أندراوس البرجي disse...

Olá, Moedas, e obrigado pela visita! Como se pode ver, o bom filho a casa torna. No meu caso regresso à História, embora de mão dada com a filologia latina ;)