segunda-feira, julho 25, 2005

Mário Soares

O PS esteve meses a fio - anos - sem candidato presidencial. No espaço de poucos dias, no entanto, surgiram três pré-candidatos passíveis de serem apoiados pelo partido: Freitas do Amaral, Manuel Alegre, Mário Soares, por ordem de aparecimento e de probabilidade. Com efeito, se Freitas se limitou a um "nunca digas nunca" e Manuel Alegre esboçou um "estou disponível", Soares afirma claramente que vai "reflectir e contactar sectores muito alargados da sociedade portuguesa". Esta presumível candidatura ("mais do que provável", dizia-se hoje na SIC-N) é sem sombra de dúvida a mais forte candidatura de esquerda, mesmo mais do que a de Manuel Alegre, que mais do que provavelmente fica assim abortada à nascença. Apesar de eu estar convencido de que Alegre tinha condições para vencer Cavaco, a imagem que estava a passar era a de que se tratava apenas de uma candidatura "para perder por poucos". Como se sabe, nada pior para uma candidatura de qualquer espécie do partir com essa ideia (apesar de a primeira vitória presidencial de Soares ser a excepção que confirma a regra). Com Soares é diferente. É o único candidato à esquerda que desde há muito tem uma imagem ganhadora, aparecendo em várias sondagens muito perto de Cavaco - a uma distância suficientemente curta para poder ser batida em pré-campanha e em campanha, com o reconhecido carisma de Soares, e a sua capacidade para mobilizar e concentrar multidões à sua volta. Lembro-me de fazer em 1985, com 14 anos, a campanha para a primeira volta. Lembro-me de ser o único miúdo da escola com um "crachá" do M.A.S.P., de ser uma espécie avis rara no meio do oceano freitista que tomava então conta de Portugal. Ou daquela noite em que fui com a minha mãe, quase clandestinos, a uma sessão de esclarecimento do PCP, onde se apelava ao voto em Soares contra Freitas - a minha mãe ia com um lenço na cabeça, para não ser reconhecida. Só quem não viveu aqueles anos é que pode achar estranho dois socialistas irem clandestinos a uma sessão do PCP. Lembro-me também da alegria incontida na noite da vitória, na segunda volta, daquelas pessoas todas na rua. Lembro de passar em frente à sede do PCP, e de haver centenas de comunistas a saltar e a chorar de alegria, a abraçar-nos. E só quem não se lembra do que era Portugal nos anos 80 é que não se espanta com isto. Lembro-me de ter acreditado sempre, mesmo quando os primeiros resultados davam percentagens esmagadoras para Freitas. Para quem não se lembra, na altura só a meio da noite apareciam as primeiras projecções, e aquilo que nos ia sendo dado eram resultados provisórios, que começavam em Macau e iam descendo de Norte para Sul. Ora era precisamente em Macau e no Norte que Freitas tinha os seus maiores apoios. Mas no fim a vitória sorriu-nos a nós, pessoal de esquerda. Então como agora todos apostavam na vitória do candidato da direita. Faço votos de que agora como então acabe por ser o candidato da esquerda - seja ele quem for - a vencer.

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