O novo sistema para o Ramo de Formação Educacional, que prevê a não atribuição de turmas aos estagiários e a consequente não remuneração, é mau, e é profundamente injusto. Representa mesmo um grave retrocesso na qualidade do ensino em Portugal, a médio prazo.
Ninguém aprende a dar aulas sem estar efectivamente a dá-las. Com este sistema os estagiários limitar-se-ão a dar algumas aulas dos seus orientadores, ao longo do ano lectivo. É pouco. É muito pouco. Ninguém aprende a dar aulas desta maneira. Aprender a dar aulas implica uma prática diária, efectiva, intensa. Implica também errar, e fazer melhor depois, evitando cometer os mesmos erros. Ninguém tem tempo para detectar os seus próprios erros, dando meia dúzia de aulas, espaçadas, ao longo de um ano lectivo. Com o antigo sistema, o estagiário chegava ao fim do ano com a tarimba necessária para recomeçar no ano lectivo seguinte. Tinha tido tempo para praticar, para errar e emendar os seus erros. Era também para isso que serviam as aulas assistidas, para detectar os erros a tempo de serem emendados. Agora vamos ter estagiários que acabam o 6º ano sem terem tido tempo para errar e emendar os seus próprios erros. Vamos ter estagiários que acabam o 6º ano e não têm condições efectivas para recomeçar no ano lectivo seguinte. Serão atirados às feras (quase literalmente), sem apoio. Darão nessa altura aulas a sério pela primeira vez na vida, sem apoio.
Com o sistema antigo davam aulas a sério no 6º ano, e eram apoiados por colegas de estágio e orientadores de escola e da faculdade. Agora não. Agora vão sozinhos, depois de um 6º ano sem prática efectiva.
Além disso, ser professor não é só dar aulas, ao contrário do que alguns demagogos querem fazer crer - só um demagogo ou uma pessoa muito mal [in]formada acha que um professor só dá aulas e tem 6 meses de férias por ano. Ser professor implica também saber levar a cabo toda uma série de tarefas administrativas de vária espécie. Implica ainda fazer testes, e depois corrigi-los. Implica saber avaliar. Estes novos estagiários não saberão fazer a sério nenhuma destas coisas. Não têm turmas atribuídas, portanto não poderão secretariar uma reunião (bom, aqui até têm sorte...). Não saberão o que é elaborar um teste - ainda que admita que alguns orientadores lhes pedirão que façam um ou outro teste ao longo do ano. Mas fazer um ou dois testes ao longo do ano é muito, muito diferente de fazer seis ou sete testes por turma. Faltará a estes novos estagiários algo que é fundamental: a responsabilidade. Não que eles sejam irresponsáveis - longe disso. Irresponsáveis são aqueles que lhes retiraram a possibilidade de terem turmas à sua responsabilidade, com tudo o que isso representa na formação de um professor.
É que no sistema antigo tinham essa responsabilidade desde o primeiro dia. Podiam falhar, é certo, mas tinham os orientadores, que os podiam ajudar, e remediar o que eventualmente fosse mal feito. Agora não. quando finalmente tiverem uma turma à sua responsabilidade (após o 6º ano), estão entregues a si mesmos, fazendo tudo pela primeira vez e sem qualquer apoio, se não tiverem a sorte de terem um colega mais velho que não os conhece de lado nenhum mas que tem a boa vontade suficiente para dispor de alguns minutos para os ajudar.
Além destes e de outros aspectos pedagógicos, há outro aspecto a ter em conta: não tendo remuneração, como poderão viver estes novos estagiários, deslocados, sem dinheiro para pagar casa e comida? Quem pagará as casas que terão de alugar? Quem pagará a comida que têm de comer? Dir-me-ão que tantas outras profissões têm estágios não remunerados. É verdade. Mas em nenhuma dessas profissões os estagiários estão 10 meses deslocados a várias dezenas, mesmo centenas, de quilómetros de casa.
Lamento que este ataque inqualificável à qualidade de ensino venha do meu partido. Lamento profundamente que se venda assim a nossa educação. Sim, porque se trata de vender. Estas novas directivas, inseridas no malfadado Plano de Estabilidade e Crescimento, têm como único objectivo poupar dinheiro. Poupa-se nos ordenados dos estagiários, que são simplesmente eliminados, e poupa-se em outros ordenados, pois não tendo os orientadores horas de redução, naturalmente são menos vagas a serem preenchidas por outros professores.
Eu tive a sorte de fazer um 6º ano do Ramo de Formação Educacional a sério, com turmas atribuídas. Não me considero ainda um bom professor - tenho tanto a aprender - mas sei que se não tivesse passado por aquele ano intenso, trabalhoso, duro mas gratificante, certamente seria muito pior professor do que sou hoje.
Mas mesmo admitindo que esta reforma era inevitável. Mesmo admitindo o inadmissível, há ainda o facto de se alterarem as regras a meio do jogo. Muitos dos estagiários que vão fazer este novo 6º ano (refiro-me aos que fizeram cursos do género 4+2) inscreveram-se num biénio com um determinado número de regras e expectativas de que se fez tabula rasa de repente, sem pré-aviso, já na fase final do 5º ano. Não teria sido possível permitir que os alunos que tinham já começado a sua formação pudessem concluí-la exactamente como lhes tinha sido garantido? Não teria sido possível aplicar esta inenarrável reforma só aos próximos estagiários, que já saberiam o que os esperava quando optassem pela via de ensino? Teria custado assim tanto esperar um ano ou dois? Vende-se a educação de um país por tão pouco?
Ninguém aprende a dar aulas sem estar efectivamente a dá-las. Com este sistema os estagiários limitar-se-ão a dar algumas aulas dos seus orientadores, ao longo do ano lectivo. É pouco. É muito pouco. Ninguém aprende a dar aulas desta maneira. Aprender a dar aulas implica uma prática diária, efectiva, intensa. Implica também errar, e fazer melhor depois, evitando cometer os mesmos erros. Ninguém tem tempo para detectar os seus próprios erros, dando meia dúzia de aulas, espaçadas, ao longo de um ano lectivo. Com o antigo sistema, o estagiário chegava ao fim do ano com a tarimba necessária para recomeçar no ano lectivo seguinte. Tinha tido tempo para praticar, para errar e emendar os seus erros. Era também para isso que serviam as aulas assistidas, para detectar os erros a tempo de serem emendados. Agora vamos ter estagiários que acabam o 6º ano sem terem tido tempo para errar e emendar os seus próprios erros. Vamos ter estagiários que acabam o 6º ano e não têm condições efectivas para recomeçar no ano lectivo seguinte. Serão atirados às feras (quase literalmente), sem apoio. Darão nessa altura aulas a sério pela primeira vez na vida, sem apoio.
Com o sistema antigo davam aulas a sério no 6º ano, e eram apoiados por colegas de estágio e orientadores de escola e da faculdade. Agora não. Agora vão sozinhos, depois de um 6º ano sem prática efectiva.
Além disso, ser professor não é só dar aulas, ao contrário do que alguns demagogos querem fazer crer - só um demagogo ou uma pessoa muito mal [in]formada acha que um professor só dá aulas e tem 6 meses de férias por ano. Ser professor implica também saber levar a cabo toda uma série de tarefas administrativas de vária espécie. Implica ainda fazer testes, e depois corrigi-los. Implica saber avaliar. Estes novos estagiários não saberão fazer a sério nenhuma destas coisas. Não têm turmas atribuídas, portanto não poderão secretariar uma reunião (bom, aqui até têm sorte...). Não saberão o que é elaborar um teste - ainda que admita que alguns orientadores lhes pedirão que façam um ou outro teste ao longo do ano. Mas fazer um ou dois testes ao longo do ano é muito, muito diferente de fazer seis ou sete testes por turma. Faltará a estes novos estagiários algo que é fundamental: a responsabilidade. Não que eles sejam irresponsáveis - longe disso. Irresponsáveis são aqueles que lhes retiraram a possibilidade de terem turmas à sua responsabilidade, com tudo o que isso representa na formação de um professor.
É que no sistema antigo tinham essa responsabilidade desde o primeiro dia. Podiam falhar, é certo, mas tinham os orientadores, que os podiam ajudar, e remediar o que eventualmente fosse mal feito. Agora não. quando finalmente tiverem uma turma à sua responsabilidade (após o 6º ano), estão entregues a si mesmos, fazendo tudo pela primeira vez e sem qualquer apoio, se não tiverem a sorte de terem um colega mais velho que não os conhece de lado nenhum mas que tem a boa vontade suficiente para dispor de alguns minutos para os ajudar.
Além destes e de outros aspectos pedagógicos, há outro aspecto a ter em conta: não tendo remuneração, como poderão viver estes novos estagiários, deslocados, sem dinheiro para pagar casa e comida? Quem pagará as casas que terão de alugar? Quem pagará a comida que têm de comer? Dir-me-ão que tantas outras profissões têm estágios não remunerados. É verdade. Mas em nenhuma dessas profissões os estagiários estão 10 meses deslocados a várias dezenas, mesmo centenas, de quilómetros de casa.
Lamento que este ataque inqualificável à qualidade de ensino venha do meu partido. Lamento profundamente que se venda assim a nossa educação. Sim, porque se trata de vender. Estas novas directivas, inseridas no malfadado Plano de Estabilidade e Crescimento, têm como único objectivo poupar dinheiro. Poupa-se nos ordenados dos estagiários, que são simplesmente eliminados, e poupa-se em outros ordenados, pois não tendo os orientadores horas de redução, naturalmente são menos vagas a serem preenchidas por outros professores.
Eu tive a sorte de fazer um 6º ano do Ramo de Formação Educacional a sério, com turmas atribuídas. Não me considero ainda um bom professor - tenho tanto a aprender - mas sei que se não tivesse passado por aquele ano intenso, trabalhoso, duro mas gratificante, certamente seria muito pior professor do que sou hoje.
Mas mesmo admitindo que esta reforma era inevitável. Mesmo admitindo o inadmissível, há ainda o facto de se alterarem as regras a meio do jogo. Muitos dos estagiários que vão fazer este novo 6º ano (refiro-me aos que fizeram cursos do género 4+2) inscreveram-se num biénio com um determinado número de regras e expectativas de que se fez tabula rasa de repente, sem pré-aviso, já na fase final do 5º ano. Não teria sido possível permitir que os alunos que tinham já começado a sua formação pudessem concluí-la exactamente como lhes tinha sido garantido? Não teria sido possível aplicar esta inenarrável reforma só aos próximos estagiários, que já saberiam o que os esperava quando optassem pela via de ensino? Teria custado assim tanto esperar um ano ou dois? Vende-se a educação de um país por tão pouco?
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