domingo, dezembro 28, 2008

Da ecologia

Eu separo o lixo em casa, como qualquer pessoa responsável e civilizada que se preze. Mas os responsáveis pela colocação dos ecopontos em Torres Vedras não ajudam nada este meu civismo. Os "moloc" espalhados pela cidade há vários anos insistem em dificultar ao máximo a vida a quem em casa se dá ao trabalho de separar civilizadamente o lixo. Se com os "amarelos" não há problema, pois têm uma abertura normal que permite o despejo de forma eficiente e rápida, já com os "azuis" e "verdes" a coisa não é tão simples.

O moloc "azul", destinado aos papéis, desafia a paciência, já sem falar da destreza, de qualquer cidadão responsável. Num exercício de puro sadismo, os que o conceberam decidiram tapar a abertura, deixando apenas uma fresta, o que obriga o cidadão educado a perder algum do seu tempo retirando quase um a um os papéis que civilizadamente separou em casa, depositando-os com dificuldade na estreita ranhura. No caso do moloc perto do meu prédio o trabalho é ainda mais complicado pela inclinação do terreno, que obriga uma mão a segurar na tampa, enquanto a outra retira dificultosamente, um a um os papéis do saco que tem de ser espalmado entre a barriga e o moloc, pois não tive a fortuna de nascer com uma terceira mão que o segurasse, enquanto as outras duas laboram na ecológica tarefa da reciclagem. Há dias formava-se até uma fila de 3 pessoas esperando, ecológica e pacientemente, que um vizinho esvaziasse a custo o saco de papéis, uma mão a segurar a tampa, a outra a depositar a papelada, a barriga a segurar o saco, enquanto uma chuva de papéis caía do saco para o chão, perante o desespero do homem, que ainda não tem treino para os ir apanhando com um pé e repondo no saco com o outro. Lá chegaremos. Ao fim de alguns longos minutos chegou a minha reciclanda vez, e eu juro que já estou a ganhar calo na barriga de tanto a usar para segurar o saco.

O moloc "verde" destina-se aos vidros. Muito bem. O problema é que mesma mente de crueldade retorcida que concebeu o moloc supra descrito também trabalhou na concepção deste, e com inusitados requintes de malvadez: só é possível introduzir os vidros por uma mínima abertura circular, onde a custo cabe um punho fechado. Portanto, ao cidadão responsável que quiser lá prantar um vidro de uma moldura partida, um vidro de uma janela, eu sei lá, um garrafão mais largo, a esse cidadão reciclado só lhe restam duas alternativas: voltar a partir os ditos vidros em pedaços pequeninos e depois, arriscando a sua integridade física, com uma mão segurar a tampa do malfadado moloc, com a outra retirar e colocar um a um os pedaços de vidro, e com a barriga pressionar levemente o saco, arriscando ainda assim ser esventrado em nome da ecologia; ou então colocar a sua integridade física acima da nobre tarefa recicladora, mandar a ecologia às malvas, e entornar no moloc "preto" todos os vidros que não caibam no pequeno orifício do moloc "verde" sem terem de ser manuseados. Eu, como sou responsável, opto por uma terceira via: vou acumulando em casa vidros, até alguma alma caridosa decidir repor a abertura original no moloc "verde".

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