O principal destes géneros estróficos é a moaxa, que acabará por ser exportada e apreciada em todo o mundo árabe, e que de resto continua hoje a ser cultivada, ainda que em moldes diferentes.
A moaxa é composta por 5 ou 6 estrofes, cada uma constituída por uma secção com rima independente, o ġuṣn (غـُصْن ، أغـْصان ou بيت ، أبيات), e outra, o qufl (قـُفْل ، أقـُفال), com rimas e estrutura iguais à kharja (خرجة), o qufl que encerra o poema. A rima do ġuṣn por vezes é interna, ente cada hemistíquio. Uma estrofe adicional, a maṭlaʿ (مَطـْلَع), encabeça a composição, reproduzindo a métrica da carja. Na sua ausência, a moaxa é chamada "careca". A kharja (do verbo kharaja, "sair"), que encerra o poema, pode ser em árabe clássico, árabe dialectal ou romance moçárabe.
Para os estudos românicos é especialmente relevante a kharja em língua moçárabe - o romance falado pelos cristãos (mas não só) do al-Ândalus. Mau grado as dificuldades inerentes aos alfabeto árabe e hebraico, que é como nos chegaram escritas, devido à ausência de escrita de vogais breves, são de uma importância fundamental para o estudo desse romance, na medida em que são os únicos textos que dele nos chegaram (descontando as palavras soltas em obras gramaticais e botânicas).
Em seguida apresento uma tradução provisória de uma moaxa do Cego de Tudela (s. XII), com kharja moçárabe, que assinalo em itálico.
Transliteração da kharja, com o texto moçárabe em itálico:
'amânu 'amânu yâ lamalîḥ ġâri
burkî tû kirš bi-l-lâhi matâri
0 (maṭlaʿ)
Uma destas noites fomos a um convento para a vinhaça,
por entre guardas e camaradas.
1
A correr, uma menina nos trouxe vinho.
Recebeu-nos com hospitalidade e respeito,
e jurou pelos Evangelhos:
“Não o vesti senão com pez,
e no fogo não foi posto nenhuma vez!”
2
E eu disse-lhe: tu, ó mais formosa de todas,
acaso tens a bebida no copo?
Ela disse: “Isso não nos incomoda de todo,
Pois assim o bebemos nos escritos
dos monges e dos bispos.”
3
Confesso-vos, ó gente nobilíssima,
estou preso de paixão por Ahmad:
tem uns olhos que matam de indiferença.
Escondi a paixão em segredo no meu íntimo,
mas as minhas lágrimas desvelaram os meus segredos.
4
As lágrimas do amante desvelaram a paixão,
pois a sua face é como a Lua cheia no horizonte;
tem olhos que matam as criaturas.
E quantos ferozes leões foram mortos
e para os caídos do amor não há vingança.
5
Uma miúda foi encantada por ele,
ficou doente com a rejeição e o orgulho,
recitou e cantou-lhe:
“Piedade, piedade, ó formoso!, diz:
por Deus, porque [me] queres tu matar?”
-
(Tradução minha a partir do original árabe e moçárabe.)
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