terça-feira, março 09, 2010

Ibn Ṣāra Aš-Šantarīnī. Poemas del Fuego e otras casidas.


A gente por cá não quer saber da nossa cultura e dos que nasceram por cá, a não ser que sejam actores de novela ou jogadores da bola ou navegantes quinhentistas de mau hálito e sovaqueira fedorenta. Por isso é preciso que venham os estrangeiros estudar os nossos autores e os que, não sendo "nossos", nasceram e viveram por cá. É o caso dos autores do período muçulmano nados ou criados nas nossas terras, e que são olimpicamente ignorados por nós.

São nomes importantes da Literatura Árabe Clássica, como Ibn Çâra ax-Xantarînî (ابن صارة الشنتريني), que nasceu, como o nome indica, em Santarém, na segunda metade do século XI. Em Espanha, no entanto, que é um país decente e civilizado, os autores árabes de origem hispânica são estudados, conhecidos e publicados em edições de grande divulgação. Hoje recebi uma edição da professora Teresa Garulo, com uma selecção e tradução de 109 (cento e nove) poemas de Ibn Çâra. Edição bilingue, note-se.

A tradução é garantidamente boa (apenas é pena não respeitar a distribuição gráfica do texto árabe). Teresa Garulo é uma enorme arabista, e de uma simpatia e humildade comuns na comunidade académica espanhola. Aqui deixo um exemplo, com o original, e depois a tradução da professora Garulo.

ومَهَفهَفِ أبْصَرْتُ في أطْواقِهِ قَمَرًا بِآفاق المَحاسِن يُشْرِقُ
تَقْضي على المُهَجات منه صَعْدةً مُتألِّقٌ فيها سِنان أزْرَقُ

Es un joven esbelto, sobre cuya túnica
veo alzarse una luna
brillando en un cielo de perfecciones.
Ha sentenciado a nuestros corazones
la recta lanza de su cuerpo
donde reluce el hierro de sus ojos azules.



Teresa Garulo (ed.), Ibn Ṣāra Aš-Šantarīnī. Poemas del Fuego e otras casidas. Poesia Hiperión, Madrid, 2001

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