quarta-feira, março 24, 2010

Dos Galegos vistos pelos Árabes


«Os galegos descendem de Jafé, o filho mais novo de Noé. O seu país chama-se Galiza: é a parte da Península que se segue ao Gharbe na direcção do Norte, residiam do outro lado da cidade de Braga, situada no Gharbe.

Esta cidade de Braga, que remontava à Antiguidade, foi uma das fundações dos romanos e uma das suas residências reais. Assemelhava-se a Mérida pela solidez dos seus edifícios e a ordenação das suas muralhas. Está hoje quase inteiramente destruída e deserta: foi demolida pelos muçulmanos que expulsaram a população.

O país dos galegos é plano e o solo é o mais das vezes arenoso. Os habitantes alimentam-se principalmente de milho painço e milho alvo. As bebidas que usam são a cidra de maçã e uma espécie de cerveja, dita 'aniska', preparada com a ajuda de farinha.

Os galegos distinguem-se pela falsidade e os seus poucos escrúpulos. Não têm asseio e só se lavam uma ou duas vezes por ano com água fria. Nunca lavam as roupas, desde o dia em que as vestem pela primeira vez até que ficam em farrapos sobre si próprios. Pretendem que, graças ao surro que os recobre, provocado pela transpiração, os seus corpos se mantêm em boa forma física. O vestuário é muito estreito e aberto à frente, de maneira que deixam a descoberto a maior parte do busto. Esta gente é muito corajosa: num recontro à mão armada, prefere fazer-se matar a fugir.»

Ibn ‘Abd al-Mun‘im al-Himyarî (s. XV)
in A. Borges Coelho, Portugal na Espanha Árabe, Caminho, 2008, pp. 33-34

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