quinta-feira, dezembro 11, 2008

Auto, pois claro...

Eu tenho um dedinho que adivinha... Há dias disse aqui que me cheirava que a generalidade dos professores queria a vergonha que é uma avaliação faz de conta, sem consequências, formativa (como dizia uma senhora) ou do género da auto-avaliação que eu próprio tive de fazer quando fui professor do secundário e básico. Hoje leio no Público e ouço na TV que de facto as propostas dos sindicatos vão nesse sentido: auto-avaliação. Portanto, o que os sindicatos querem (e, presumo, a generalidade dos professores que andam em manifs) é aquela auto-avaliação à moda da que eu fazia: uma folhinha A4 onde dizia que durante aquele ano tinha feito um excelente trabalho, que tinha usado muitos recursos e muitas estratégias, que os alunos me veneravam e que eu os venerava, e adeus meus senhores que como ninguém vai ver se é verdade e isto não conta para nada eu também não me ralo muito. Ora bem. É este o ensino que querem?

4 comentários:

Anónimo disse...

Se já foi professor,como diz, devia ter vergonha do trabalho que fez, pois se o diz...
Os meus filhos também apanharam muitos assim, mas também muitos assado, para quem a folhinha da auto-avaliação era isso mesmo: a verdade do trabalho realizado!

André . أندراوس البرجي disse...

Eu SOU professor. E do trabalho que fiz e faço só tenho vergonha de uma coisa: de ter aceitado sem protestar a vergonha das folhinas de auto-avaliação. Porque para mim o trabalho e a avaliação têm de ter seriedade, rigor e exigência, e é assim que o meu trabalho se rege. Quanto aos sindicatos, parece que só querem a mama da auto-avaliação. Isso sim, é vergonhoso, insultuoso e inconcebível.

Anónimo disse...

Como se procede à avaliação do desempenho no ensino superior? Não tenho ideia...

André . أندراوس البرجي disse...

Varia de instituição para instituição. Na minha processa-se de forma anedótica - mas ainda assim mais séria do que auto-avaliação. Fazem-se uns inquéritos anónimos aos alunos, com perguntas sobre a pontualiade, a clareza da exposição, o interesse despertado, os materiais fornecidos, etc. Na prática o que acontece é que o que acaba por prevalecer é a empatia desenvolvida entre professor e alunos. No meu caso, as minhas classificações rondam sempre o máximo (5), sendo as mais baixas salvo erro de 4,8 ou coisa parecida. Quer isto dizer que sou um professor excepcional? Longe disso: quer dizer que crio uma boa empatia com os alunos, que se fartam de rir com os disparates com que vou temperando o latim. Sintomático é o facto de o meu pior parâmetro ser sempre a pontualidade - quando eu sou obsessivamente pontual, como todos os meus colegas e amigos sabem, e entro na aula o mais tarde 10 segundos depois da hora marcada (passe o exagero, mas não anda longe disso). Os efeitos da avaliação? Nenhuns. Os mal classificados não são penalizados, os bem classificados não são premiados. Nem conta para progressão, que é feita exclusivamente (e ainda bem) mediante a prestação de provas científica exigentes, e sujeitas a concurso com vagas limitadas. Eu sou professor na UL há 11 anos, e continuo com contratos a prazo. Só tenho a esperança de ganhar vínculo definitivo depois 5 anos após prestar provas de doutoramento, e não é garantido. Se me tivesse mantido no secundário muito provavelmente já era efectivo, e sem sombra de dúvida ganharia muito mais do que ganho agora. Quando saí do ensino secundário, em 1996, ganhava 150 contos, e vim para a faculdade ganhar 80, pouco mais de metade. Só ultrapassei os 150 que ganhava no secundário depois de fazer mestrado.

Quem me dera que houvesse no superior uma avaliação do tipo proposto pelo governo para o básico e secundário. Talvez por fim se separasse o trigo do joio.