quarta-feira, setembro 21, 2011

Da culpa dos outros

Até Junho, para o PSD a culpa da crise era exclusivamente do governo, que derrubou, precipitando a necessidade de ajuda externa, com o argumento de que "chega de austeridade". Agora, depois de aplicar medidas de austeridade muito mais duras que o as previstas no "memorando da tríade" (continuo a preferir grego a russo), muitíssimo mais duras do que as do PEC 4, agora a culpa é da Grécia e do Alberto João.

quarta-feira, setembro 14, 2011

Do pagamento de impostos em épocas de crise

Faz hoje 369 anos que o Pe. António Vieira pronunciou o Sermão de Santo António, na igreja das Chagas, em Lisboa, a apelar à participação de todos no esforço de guerra para manter a independência do reino, restaurada ainda não havia 2 anos. Apelava concretamente a que todos participassem com os seus impostos, o que seria o tema dominante das Cortes que se reuniram no dia seguinte. É uma ideia que continua bem actual, num país onde todos tentam fugir aos impostos, sobretudo os que têm mais, e onde se instalou a prática terceiro-mundista do pagamento sem factura, sem perceber que assim não vamos a lado nenhum. Dou a palavra a Vieira.

Estes (*) são os elementos de que se compõe a república. Da maneira, pois, que aqueles três elementos naturais deixam de ser o que eram, para se converterem em uma espécie conservadora das cousas: Ex eo, quod fuit, in alteram speciem commutatur; assim estes três elementos políticos hão de deixar de ser o que são, para se reduzirem unidos a um estado que mais convenha à conservação do reino. O estado Eclesiástico deixe de ser o que é por imunidade, e anime-se a assistir com o que não deve. O estado da Nobreza deixe de ser o que é por privilégios, e alente-se a concorrer com o que não usa. O estado do Povo deixe de ser o que é por possibilidade, e esforce-se a contribuir com o que pode; e desta maneira deixando cada um de ser o que foi, alcançarão todos juntos a ser o que devem; sendo esta concorde união dos três elementos eficaz conservadora do quarto. Vos estis sal terrae.

(*) o Estado Nobreza, o Estado Eclesiástico, o Estado do Povo.

Pe. António Vieira
Sermão de Santo António (Lisboa, 14 de Setembro de 1642)

quinta-feira, setembro 01, 2011

O exílio do crente

Nas "Vidas dos Padres Emeritenses", texto de meados do século VII, conta-se, entre outras, a vida de Masona, bispo de Mérida entre c. 570 – c. 600/610. Foi na altura das grandes disputas religiosas entre católicos e arianos, e Masona, católico devoto, foi levado a Toledo, à presença de Leovigildo, rei dos Visigodos entre 572-586 e seguidor da heresia ariana. Interrogado e ameaçado, resistiu às tentativas do rei no sentido de o converter ao arianismo. Derrotado, Leovigildo exigiu-lhe que ao menos permitisse que uma túnica de santa Eulália, relíquia então venerada em Mérida, fosse trazida para a catedral ariana de Toledo. Masona recusou. Leovigildo voltou à carga, e ameaçou-o com o exílio. Masona riu-se das ameaças, e deu esta resposta monumental, a que eu, agnóstico convicto, faço a minha vénia:

- Exilium mihi minaris? Compertum tibi sit quia minas tuas non pertimesco et exilium nullatenus pauesco, et ideo obsecro te ut si nosti aliquam regionem ubi Deus non est, illic me exilio tradi iubeas.
Cui ille ait:
- Et in quo loco Deus non est, biotenate?
Et uir Dei respondit:
- Si nosti quia in omni loco Deus est, cur mihi exilium minaris? Nam ubicumque me direxeris noui quia non me derelinquet pietas Domini.

(Vidas, 5.6.17-18)

Isto em linguagem é mais ou menos assim:

– Ameaças-me com o exílio? Fica sabendo que não tenho medo das tuas ameaças, e não tenho medo nenhum do exílio, e por isso peço-te que, se conheces alguma região onde não esteja Deus, ordenes que me levem para lá exilado.
Aquele disse-lhe:
E em que lugar não está Deus, ó tu que procuras a morte?
E o homem de Deus respondeu:
– Se sabes que Deus está em todo o lado, porque me ameaças com o exílio? Na verdade, para onde quer que me mandes, eu sei que a piedade de Deus não me abandonará.

quarta-feira, agosto 24, 2011

Da pronúncia dos ditadores

Os media nacionais, seguindo a confusão generalizada, hesitam na grafia do nome do ditador da Líbia. Não se percebem os motivos de tanta balbúrdia ortográfica. Seguindo a transliteração consagrada internacionalmente para os nomes árabes, o nome do homem no nosso alfabeto seria Qaḏḏāfī (‎Muʿammar al-Qaḏḏāfī - مُعَمَّر القَذَّافِي‎). Ou, simplificando, Qaddafi. Quando muito, respeitando a pronúncia dialectal, Gaddafi. E este até é um dos casos em que a geralmente falível e pouco fiável wikipédia até acerta. Por isso, repito: não se percebe o motivo de tanta asneira sem qualquer fundamentação aceitável, como esta (ainda assim a menos disparatada), esta, esta ou esta, aberrações sem qualificação.

sábado, agosto 20, 2011

CSI: Praia da Rocha

Talvez eu esteja demasiado habituado a ver séries americanas, que nem sempre reflectem a própria realidade americana, mas depois de ver nas notícias a polícia a apanhar cartuchos do chão com as manápulas descobertas, numa provável "cena de crime", não posso deixar de pensar que isto explica muita cousa sobre este país.

Revisionismos . X

O dia de amanha [25 de Abril] comemora a independencia de Portugal, com a América do Norte.

Quando dava aulas em Caldas da Rainha, em 1995/1996, aproveitei a véspera de um 25 de Abril para pedir aos alunos do 8.º ano que escrevessem uma pequena redacção em que explicassem o que tinha sido essa data. Em duas turmas ninguém acertou nem de perto. Redescobri agora o ficheiro que então compilei com as melhores respostas.

sexta-feira, agosto 19, 2011

Das avestruzes sorrateiras

A Carolina diz que ao pé de casa há avestruzes, mas que como são muito tímidas ninguém as vê. Só que em ocasiões especiais e em festas lá em casa, e sobreutdo no dia de São Valentim, elas aparecem e põem-se a espreitar por cima do muro, mas às escondidas, para ninguém as ver.

Depois perguntou porque é que as avestruzes têm asas, se não voam. Tendo em conta a idade dela, expliquei que há milhões de anos elas eram aves mais pequenas que voavam, e que tinham evoluído, por selecção natural, de modo a não precisarem delas, tal como acontece com as galinhas. Ainda pensei em dizer simplesmente que era para se abanarem quando está muito calor e para fazerem sinais aos namorados,  assim tipo leques, mas achei que era demasiado complicado para uma menina de pouco menos de 6 anos.

quinta-feira, agosto 18, 2011

Revisionismos . IX

Parece como eu iadizendo mais atras a ponte 25 de Abril o nome da ponde de 25 de Abril porque foi onde ouve a guerra onde se revoltou o povo contra Salazar e ele mandou tropas para os combater mas derrepente o povo chateado aborrecido por causa de matarem pessoas prenderem-nas por causa de dizerem a palavra politica um absurdo por isso eles lutaram contra a ditadora e ganharam e assim com algumas mortes conseguiram a independencia e assim se conseguiu eleger-se pessoas para governarem o pais e assim temos a nossa privacidade.

Quando dava aulas em Caldas da Rainha, em 1995/1996, aproveitei a véspera de um 25 de Abril para pedir aos alunos do 8.º ano que escrevessem uma pequena redacção em que explicassem o que tinha sido essa data. Em duas turmas ninguém acertou nem de perto. Redescobri agora o ficheiro que então compilei com as melhores respostas.

Revisionismos . VIII

por iso que acabou o tempo de esqrevatura que havia o tempo de sachanacham.

Quando dava aulas em Caldas da Rainha, em 1995/1996, aproveitei a véspera de um 25 de Abril para pedir aos alunos do 8.º ano que escrevessem uma pequena redacção em que explicassem o que tinha sido essa data. Em duas turmas ninguém acertou nem de perto. Redescobri agora o ficheiro que então compilei com as melhores respostas.

quarta-feira, agosto 17, 2011

Revisionismos . VII

O cravo um simblo do fim da politica de Salazar. O ex primeiro-ministro Salaza que estais no inferno, mandava em Portugal. Por isso mandou as tropas portuguesas explusar as religiões que não era dele. Então os cidadãos portugueses re voltaram contra Salazar, e foi assim: os cidadãos portugueses queriam matar Salazar e a raiva era tão grande.

Quando dava aulas em Caldas da Rainha, em 1995/1996, aproveitei a véspera de um 25 de Abril para pedir aos alunos do 8.º ano que escrevessem uma pequena redacção em que explicassem o que tinha sido essa data. Em duas turmas ninguém acertou nem de perto. Redescobri agora o ficheiro que então compilei com as melhores respostas.

sexta-feira, agosto 05, 2011

Revisionismos . VI

O antigo presidente Mario Soares (tambem conhecido por Mario Bocheichas) tambem foi preso pela PIDE mas depois fugiu do quartel. O Mario Soares para fugir teve que se atirar ao Rio tejo. No dia 25 de Abril de 1974 o povo revoltou-se contra o governo e foram distribuidas muitas rosas vermelhas.

Quando dava aulas em Caldas da Rainha, em 1995/1996, aproveitei a véspera de um 25 de Abril para pedir aos alunos do 8.º ano que escrevessem uma pequena redacção em que explicassem o que tinha sido essa data. Em duas turmas ninguém acertou nem de perto. Redescobri agora o ficheiro que então compilei com as melhores respostas.

Revisionismos . V

O 25 de Abril não tenho bem a ceteza mas acho que o dia da independencia de Portugal. Deixou de ser governado pelo Rei para passou a ser gornado pelo 1.º Menistro ou seja, deixou de ser Monarquia para ser Oligarquia.

Quando dava aulas em Caldas da Rainha, em 1995/1996, aproveitei a véspera de um 25 de Abril para pedir aos alunos do 8.º ano que escrevessem uma pequena redacção em que explicassem o que tinha sido essa data. Em duas turmas ninguém acertou nem de perto. Redescobri agora o ficheiro que então compilei com as melhores respostas.

Nos próximos tempos deixarei aqui uma selecção, com a ortografia (passe o eufemismo) original.

quarta-feira, agosto 03, 2011

Revisionismos . IV

Quando dava aulas em Caldas da Rainha, em 1995/1996, aproveitei a véspera de um 25 de Abril para pedir aos alunos do 8.º ano que escrevessem uma pequena redacção em que explicassem o que tinha sido essa data.  Em duas turmas ninguém acertou nem de perto. Redescobri agora o ficheiro que então compilei com as melhores respostas.

Nos próximos tempos deixarei aqui uma selecção, com a ortografia (passe o eufemismo) original.


Houve uma grande guerra mundial ou seja uma Revolução. começaram atirar cravos vermelhos uns aos outros. (...) Apartir desta guerra o nosso pais passou a ser independente, uma monarquia.

terça-feira, agosto 02, 2011

Revisionismos . III


Quando dava aulas em Caldas da Rainha, em 1995/1996, aproveitei a véspera de um 25 de Abril para pedir aos alunos do 8.º ano que escrevessem uma pequena redacção em que explicassem o que tinha sido essa data.  Em duas turmas ninguém acertou nem de perto. Redescobri agora o ficheiro que então compilei com as melhores respostas.

Nos próximos tempos deixarei aqui uma selecção, com a ortografia (passe o eufemismo) original.

A revolução de 25 de Abril foi em 1974, comandada pelo General Spinola. que consistiu em findar a Democracia e passar para a republica. Foi uma revolução que demorou 1 mes e que envolveu mais de 1 milhão de pessoas que ao passarem por Lisboa a arrasaram completamente (...).

Revisionismos . II

Quando dava aulas em Caldas da Rainha, em 1995/1996, aproveitei a véspera de um 25 de Abril para pedir aos alunos do 8.º ano que escrevessem uma pequena redacção em que explicassem o que tinha sido essa data.  Em duas turmas ninguém acertou nem de perto. Redescobri agora o ficheiro que então compilei com as melhores respostas.

Nos próximos tempos deixarei aqui uma selecção, com a ortografia (passe o eufemismo) original.

Aluno 1: A tropa que Salazar tinha o nome de TID (...).

Aluno 2: Com esta revolta deixamos de ter anarquia e passamos a ter uma monarquia.

Aluno 3: Foi neste dia, no ano de 1974 que o povo Portugual se revoltou contra o regime democratico.

Revisionismos . I


Quando dava aulas em Caldas da Rainha, em 1995/1996, aproveitei a véspera de um 25 de Abril para pedir aos alunos do 8.º ano que escrevessem uma pequena redacção em que explicassem o que tinha sido essa data.  Em duas turmas ninguém acertou nem de perto. Redescobri agora o ficheiro que então compilei com as melhores respostas.

Nos próximos tempos deixarei aqui uma selecção, com a ortografia (passe o eufemismo) original.

A pide era uma seita do governo que predia todos aqueles que falacem mal do governo. Ninguem sabia quais eram os furasteiros da pide. O primeiro-ministro Salazar era um primeiro-ministro, que era um velho de barbaras ataos pes e o seu grande adeversario o General Spiola e que combateu com os seus homens o Salazar e os furasteiros da pide.

quarta-feira, julho 20, 2011

Livros cá de casa . XXX


O Manuel (4 a.) hoje pediu-me para lhe ler esta história em "inguelês". Mas digamos que não ficou muito convencido. Só pode ter sido pelo meu péssimo sotaque, porque cummings é deus e é impossível não se gostar dele.

quarta-feira, julho 13, 2011

quinta-feira, julho 07, 2011

De como as cousas mudam

Tem graça. Há uns meses, quando apesar de tudo as famigeradas agências de notação atacavam de forma concertada a economia portuguesa, era porque o governo era não sei quê, porque o primeiro-ministro era não sei que mais, e se o governo fosse PSD não se portavam desta maneira (Manuela Ferreira Leite dixit). Agora que o governo é PSD/CDS é porque as agências são umas malvadas, e afinal não se ralaram nada de o governo ter mudado, e está tudo muito indignado. Tem graça. Não vi a mesma indignação há uns meses atrás.

domingo, junho 26, 2011

Sapientia nepotica: theoria da litteratura (II)

A Carolina (5 anos) diz que tem uma amiga chamada Matilde. Eu aplaudi educadamente. Ela talvez tenha percebido o meu pouco entuasiasmo, e acrescentou que sabe o nome completo da amiga: Matilde Rosa Araújo.

Sapientia nepotica: sic itur ad astra (II)


Depois da Carolina, foi a vez de o Manuel (4 anos) me perguntar como é que a gente vai para o céu. Eu respondi da forma mais terrena possível: de avião ou de foguetão. Ele metralhou-me com os olhos e berrou em tom "duh!!!" que não, que queria dizer como é que a gente vai para o céu quando morre. Eu engasguei-me agnosticamente, e gemi um "não sei" em tom "tirem-me daqui". Mas o Manuel já sabe fazer perguntas retóricas, e assim respondeu ele à sua própria pergunta. Segundo a mãe, informou ele catedraticamente, o Jesus vem a voar lá do céu e leva-nos lá para cima. É isso mesmo, suspirei eu. aliviado.

quarta-feira, junho 22, 2011

Da tradução da poesia


De volta do belíssimo Hino a Eulália de Mérida, de Prudêncio (s. IV-V). Às tantas o latim diz 

curriculis tribus atque nouem
tres hiemes quater attigerat

o que em linguagem quer dizer, mais cousa menos cousa,

três e mais nove anos,
três invernos quatro vezes atingira

Mas o tradutor espanhol da reputada edição da BAC, Alfonso Ortega, acha que é uma maçada conservar o verso (que desperdício de papel, que está tão caro!), e acha que é uma tolice sem sentido esta mania que os poetas, sobretudo os antigos, têm de não dizerem as cousas como elas são. No meu tempo, resmungava Don Alfonso Ortega, Catedrático da Universidade Pontifícia de Salamanca, a minha avó dizia que já era noite, que tinha sono e que ia dormir. Agora estes poetas antigos dizem que já Apolo declinara e Diana refulgia no palatino ebúrneo e Mercúrio me afagava a cabeça com o sonífero caduceu. Tenham a santa paciência! Pelamordedeus! Eu cá é mais pão pão queijo queijo, rosnava do alto da sua cátedra salmaticente.

Mas que raio, pensou Don Alfonso Ortega, enquanto entornava os olhos catedráticos sobre o venerável cartapácio, então se três mais nove, são doze, e se quatro vezes três são doze - é a mesma cousa, pelamordedeus!, então para que é que o homem não disse logo que a santa muchacha tinha 12 anos? Valha-me Santa Eulália! Ora toca lá então a traduzir como deve ser, cogitou o Catedrático, e escarrapachou na página

Doce inviernos había alcanzado a ver ella en el transcurso de otros tantos anõs...

Mainada. Já agora eu sugeria que ele resumisse os 215 versos do hino em uma frase: 

la muchacha tenía doce años y sufrió martirio a manos de Calpurniano, en Mérida. Fin. 

A bem dizer, se é para violar o original e acabar com a poesia, sempre poupa papel e paciência ao pessoal.

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O boneco é de John William Waterhouse (1849-1917), e representa o martírio de Eulália.

Livros cá de casa . XXVI

sexta-feira, junho 17, 2011

Sapientia nepotica: sic itur ad astra


Os miúdos andam desconcertantemente obcecados com a morte, como já se tinha percebido com o estranho caso da avó que matou o Fernando Pessoa. A Carolina hoje perguntou como é que as pessoas vão para o céu quando morrem. Pensei em responder que me parecia que a única hipótese de uma pessoa ir para o céu é de avião ou de nave espacial. Mas perante a minha hesitação agnóstica ela atalhou e disse que se calhar desapareciam da terra e apareciam no céu. Eu disse que talvez fosse isso.

quinta-feira, junho 16, 2011

Bloomsday 2011


How had he attempted to remedy this state of comparative ignorance?
Variously. By leaving in a conspicuous place a certain book open at a certain page: by assuming in her, when alluding explanatorily, latent knowledge: by open ridicule in her presence of some absent other’s ignorant lapse.

James Joyce, Ulysses

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Na fotografia: Eduardo Demidenko Sánchez, no Bloomsday de 2009. O Ulysses é meu, achado num alfarrabista.

quarta-feira, junho 15, 2011

Dos pesos e das medidas

Um jornal afecto a um partido, e que está sediado no mesmo edifício em que se encontra a sede local desse partido, oferece-se para recolher votos e enviá-los por correio. Toda a gente parece achar normal. O problema é que não é um partido de uma qualquer República das Bananas. É o PSD, de Portugal.

Se porventura o jornal fosse afecto ao PS e estivesse no mesmo edifício da sede do PS local, caía o Carmo e a Trindade, e montava-se já uma tremenda teoria da conspiração, envolvendo mordaças à liberdade de expressão, conluio para sufocar a oposição, corrupção, máfia e invasão da Terra por extraterrestres. Mas como se trata do PSD, não se passa nada, e convém é esquecer que é para o Passos e o Portas tomarem posse rapidamente.

terça-feira, junho 14, 2011

Livros cá de casa . XXV


"Los dos primeros cuentos de este libro son de índole fantástica. Sólo ocurrieron para siempre en la imaginación. El último, The Sailor's Return, es realista. Esperamos que nunca haya ocurrido, tan verosímil y tan dolorosa es la trama. Estas historias pertenecen al más antiguo de los géneros literarios, la pesadilla"
Jorge Luis Borges, Biblioteca personal.

Livros cá de casa . XXIV . (Re)Leituras de Verão . II

domingo, junho 05, 2011

Sapientia nepotica: Theoria da Litteratura


Há dias a Carolina (5 anos) perguntou-me se eu conhecia o Fernando Pessoa. Eu lá lhe expliquei que bom, quer dizer, conheço o que ele escreveu, ele não, que ele já morreu. Acrescentei que ela própria conhecia o Fernando Pessoa, pois eu já lhe tinha lido alguns poemas dele. Ela lembrou-se e riu. Depois declarou que foi a avó que matou o Fernando Pessoa, no que foi apoiada pelo Manuel (4 anos), que ecoava "foi a avó que o matou, foi a avó". Não consigo imaginar aonde terão eles ido buscar isto. Mas não deixa de ser uma honra, ser filho da mulher que matou o Fernando Pessoa.

Por seu lado, depois de se escarrapachar em cima da minha cada vez menos protuberante barriga, e de me ter barrado a cabeça ("é champô") e as costas ("é protector solar") com areia húmida, o Manuel (4 anos) perguntou quem tinha escrito aqueles poemas que eu estava a ler. Expliquei que não eram poemas, mas pequenas histórias (para ele uma mancha gráfica pequena é um poema). Tratava-se da "Biblioteca personal" do Jorge Luis Borges. Depois de lhe ler um bocadinho, pediu-me que lhe repetisse o nome do senhor que escreveu aquela história. Jorge Luis Borges. Notou que o pai também se chama Jorge. Daí até concluir que o pai se chama não só Jorge, mas Jorge Luis Borges foi um instante. Disse e repetiu, porque parece ter gostado da sonoridade, que o pai se chama Jorge Luis Borges. E não deixa de ser uma honra, ser cunhado do Jorge Luis Borges.

sábado, junho 04, 2011

Livros cá de casa . XXII . (Re)Leituras de Verão . I


O Manuel (4 anos) perguntou-me onde era a loja de livros onde o senhor da capa estava. Depois pediu-me que lhe lesse um bocadinho. Mas acho que não ficou muito comovido.

quarta-feira, junho 01, 2011

Livros cá de casa . XXI


A mania de enxovalhar os títulos originais é antiga, já sabemos. E nem sempre é injustificável. Há casos em que expressões idiomáticas ou referências datadas ou específicas de uma nação poderiam tornar o título incompreensível, se traduzido à letra. Assim de repente, imagino que seja difícil traduzir à letra o "Fado Alexandrino" do Lobo Antunes. Mas não é que as edições inglesas o mantiveram? E as alemãs também? E os franceses até traduziram à letra o intraduzível "Os cus de Judas"? (*)

Mas há casos que desafiam toda e qualquer tentativa de explicação.

O Pamuk viu o seu "Kara kitap" ("O livro negro") ser travestido em Portugal de "Os jardins da memória". A minha edição, em inglês, achou que não era extravagância nenhuma traduzir o título por "The Black Book". A edição francesa não viu mal nenhum em traduzir por "Le Livre Noir"; e os alemães não tiveram vergonha de traduzir por "Das schwarze Buch"; e os espanhóis, que gostam tanto de nos chatear, lá traduziram por "El libro negro". Mas a Presença achou que era falta de imaginação, e toca de inventar um "Os jardins da memória" que não lembraria (nem lembrou) a mais ninguém.

O Tolstói deve dar voltas no túmulo depois de a sua Крейцерова соната ("Sonata Kreutzer") ter sido assassinada sob a forma de um "Ensaio sobre o ciúme", que devia valer pena de trabalhos comunitários a quem teve esta ideia peregrina. Além de ser um insulto à inteligência, este esventramento do título, quanto a mim condenável só por si, ainda nos priva das óbvias mas indispensáveis referências musicais que encerra.

Além do mais, esta edição tuga teve como vítima colateral o próprio nome do homem, transformado num extraordinário Léon Tolstoi. Eu sei que houve em tempos a tradição de se rebaptizar o pobre Lev Tolstói desta forma, porque se o lia e traduzia a partir do francês. Hoje, no entanto, é uma opção absurda - passe o eufemismo. Se lhes faz comichão o "Lev", então ao menos "Leão". Agora "Léon"? Plamordedeus.

Também o Eco e o Jean-Claude Carrière tiveram o seu recentíssimo "N' espérez pas vous débarasser des livres" / "Non sperate vi liberarvi dei libri" (2009) imaginativamente rebaptizado em Portugal com o inenarrável e inexplicável título "A obsessão do fogo". A edição que tenho, em inglês, não teve medo de traduzir o título como "This is not the end of the book". No Brasil, que continua a dar-nos lições, não acharam que lhes caíam os parentes na lama, e traduziram civilizadamente por "Não contem com o fim do livro". Mas por cá a Difel achou que era um título demasiado aborrecido, e toca de inventar um que não tem nada que ver com o conteúdo do livro, e é mesmo enganador.

Agora vejo que esta edição sem data, mas que por dentro tem uma assinatura do antigo possuidor datada de 1945, fez o mesmo ao Nikolai Gógol, aqui rebaptizado "Nicolau". Mas ao menos neste caso assume-se logo na capa a "liberdade poética", que é como quem diz que já sabemos ao que vamos.

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(*) Em relação a estes problemas recomendo vivamente a hilariante e inteligentíssima carta que o Cavaleiro de Oliveira, do alto do seu século XVIII, escreveu ao Pe. Dom José Augusto, a propósito de um italiano que dizia ser capaz de traduzir qualquer texto português. A carta, destinada a ser então traduzida pelo tal italiano, consiste em 20 páginas (na minha edição) que fazem todo o sentido, mas usando quase exclusivamente expressões idiomáticas portuguesas, com um leit-motiv no fim de cada parágrafo, com a expressão "gostava já de ver essa tradução" e variantes. Sobre isto pode ser que venha a haver um post em breve.

terça-feira, maio 24, 2011

Sapientia nepotica

A Carolina hoje perguntou se os meus alunos eram meninos. Eu respondi que eram crescidos. Depois perguntou se isso queria dizer que já eram capazes de pôr sozinhos os pratos na mesa. Respondi que supunha que sim. Depois virou-se para o Manuel e disse que eu era muito trabalhador, porque era tio e professor ao mesmo tempo. Amen, habîbatî, amen.

domingo, maio 22, 2011

Livros cá de casa . XIX


Este é, actualmente, o livro preferido do Manuel (4 anos). Tenho de lê-lo 2 ou 3 vezes seguidas, sempre com muitas gargalhadas. Gosto do humor negro do livro. O Manuel também.



quarta-feira, maio 18, 2011

Dos maiores de 23

A propósito do ataque do psd às "Novas Oportunidades", já se começam também a ouvir vozes a dizer mal dos acessos de maiores de 23 anos à Universidade, os antigos "ad hoc". Ataques soezes e injustificados. Posso dar testemunho de que até agora, na FLUL (a minha experiência na FCSH-UNL é recente), sem uma única excepção que me venha à memória, os alunos que entraram ao abrigo dos "maiores de 23" estão invariavelmente entre os melhores das turmas onde estão integrados, frequentemente mesmo até obtêm as mais altas classificaçõe da turma. São também, sem excepção, dos alunos mais interessados, aplicados e trabalhadores. É uma tremenda injustiça denegri-los como ainda hoje comecei a ouvir em alguns programas daqueles da TV para onde se liga a dizer de sua justiça (quase sempre baboseiras populistas).

Não me pronuncio (ou, como diz o presidente da república, não me "prenuncio") sobre as Novas Oportunidades, porque não conheço. Mas posso pronunciar-me sobre alguns casos de pessoas que conheço que fizeram aqueles antigos cursos em que num ano se fazia o secundário todo, e que chegaram à faculdade, através do "ad hoc", e que foram, também elas, das melhores da turma. É preciso ter algum cuidado com generalizações.

terça-feira, maio 17, 2011

Livros cá de casa . XVI


Em Portugal não se editam com frequência as grandes obras da nossa cultura, menos ainda as da cultura universal, ao abrigo de uma mentalidade parola que diz que "se pode sempre ler em inglês ou espanhol ou francês". 

O Apologético de Tertuliano, obra fundamental para o entendimento do Cristianismo primitivo, teve esta edição de 300 exemplares, que já não se acha em lugar nenhum, e tanto quanto sei não voltou a ser reeditado.

quinta-feira, maio 12, 2011

that ideal reader suffering from an ideal insomnia

and look at this prepronominal funferal, engraved and retouched and edgewiped and puddenpadded, very like a whale's egg farced with pemmican, as were it sentenced to be nuzzled over a full trillion times for ever and a night till his noddle sink or swim by that ideal reader suffering from an ideal insomnia: all those red raddled obeli cayennepeppercast over the text, calling unnecessary attention to errors, omissions, repetitions and misalignments
James Joyce, Finnegans Wake

terça-feira, maio 10, 2011

Outra vez da rapidez

Na Faculdade. Com preguiça de tirar o portátil com Linux da mochila, liguei o computador do gabinete, que tem Windows 7. Depois de esperar um bom bocado, enquanto ele configurava não sei o quê, acabei por perder a paciência, tirar o portátil da mochila, ligar o ubuntu linux, fazer o que tinha a fazer, escrever isto, e agora vou carregar no reset do outro, que continua a configurar não sei o quê e não me deixa entrar. 

Era uma boa maneira de o estado poupar dinheiro: acabar com os milhões de euros anuais pagos em licenças para o Merdows, e passar a usar Linux, que faz a mesma coisa em 1/3 do tempo, e é gratuito.

sábado, maio 07, 2011

Das teses

Depois de anos a trabalhar exclusivamente na tese de doutoramento, sempre de consciência pesada quando lia cousas não directamente relacionadas ou quando passava mais do que uma ou duas horas de lazer, assim que a tese acabou de ser defendida e aprovada, não encontrei melhor maneira de comemorar senão sair da Reitoria, e ir a pé até à Feira do Livro gastar alguns euros em livros. E que bem gastos foram.

sexta-feira, abril 29, 2011

Do assassínio da Feira do Livro

A Feira do Livro tem hoje o primeiro do que se prevê virem a ser muitos dias de chuva e mau tempo em geral. Depois do desastre do ano passado (que ainda assim teve menos dias maus do que os que agora se prevêem), não se percebe muito bem o que leva a organização a insistir neste calendário abstruso. Fazer a Feira numa altura do ano em que até as criancinhas sabem que o tempo é instável e tendencialmente chuvoso não lembra a ninguém. A não ser que a ideia seja acabar com a Feira ao ar livre, e assassiná-la num espaço fechado. Se assim é, mais valia assumirem-no de vez.

domingo, abril 03, 2011

Da missão


Outros modelarão, bem o creio, bronzes com vida
e sem dureza; extrairão do mármore seres animados;
defenderão melhor as causas; medirão com o compasso
o curso dos céus e anunciarão o nascer dos astros.
Tu, Romano, sê atento a governar os povos com o teu poder
– estas serão as tuas artes – a impor hábitos de paz,
a poupar os vencidos e derrubar os orgulhosos.

(Eneida VI.847-853. Trad.: M. H. da Rocha Pereira)

Excudent alii spirantia mollius aera
(credo equidem), uiuos ducent de marmore uultus,
orabunt causas melius, caelique meatus
describent radio et surgentia sidera dicent:
tu regere imperio populos, Romane, memento
(hae tibi erunt artes), pacique imponere morem,
parcere subiectis et debellare superbos.

terça-feira, março 29, 2011

Livros cá de casa . XII


Gostava de ter tempo para retomar os estudos de Árabe, e sobretudo de me voltar a dedicar à literatura árabe medieval hispânica.

quinta-feira, março 17, 2011

Doping barroco

A ideia hoje era correr só um bocadinho, para regressar ao trabalho mais depressa. Só que a passadeira tem televisão, e no Mezzo estava a dar a a Missa em Si Menor de J.S. Bach. Assim, e como é mais do que óbvio, só parei a corrida quando o coro e a orquestra acabaram de entornar o Dona nobis pacem. Ou seja, em vez de uma corridinha rapída, de 4 ou 5km, foram quase 11km. Mas também, que graça tem correr só 4 ou 5km?

quarta-feira, março 16, 2011

Livros cá de casa . X


Comprado num alfarrabista de Lisboa. A edição não tem data, apenas indica ser a 4.ª. A informação contraria o que diz o catálogo da Biblioteca Nacional, segundo o qual a 4.ª edição seria dos anos 80. Não é o caso desta, claramente anterior. Pela ortografia e pelo aspecto geral, eu apontaria para os anos 40 ou, o mais tardar, 50. A primeira edição desta obra é de 1937.

domingo, março 13, 2011

Livros cá de casa . IX


Lido lá para finais dos anos 80, enrolado debaixo dos cobertores. A edição é de 1952, e a folha de rosto diz que:

Esta edição de QUO VADIS 
contém o texto integral de 
HENRYK SIENKIEWICZ 
e assinalou a estreia em Portugal, no ano 
de 1952, do filme da M. G. M. 
Colossal QUO VADIS
As ilustrações que acompanham esta edição 
foram extraídas do filme
por amável deferência da M. G. M.

sábado, março 12, 2011

Livros cá de casa . VIII


Achado num alfarrabista de Lisboa, lá pelos anos 90. Nunca percebi porque é que o autor não traduziu o Livro IV. Assim como assim era só mais um...

A edição é bilingue. O tradutor é Ruy Mayer, que também autografou este exemplar.

terça-feira, março 08, 2011

Azóia na Líbia, az-Zâwiya em Portugal

Muito falada nos últimos dias pelas piores razões, a cidade líbia de az-Zâwiya (الزاوية) tem precisamente o mesmo nome que as povoações portuguesas chamadas Azóia, cujo nome vem de az-Zâwiya, e de que a mais conhecida é Santa Iria da Azóia. A palavra significa "recanto", ou "oratório", dependendo dos contextos.

Por alguma razão obscura que não consigo descortinar, a imprensa portuguesa chama à cidade líbia "Zâwiya", roubando-lhe o artigo, que faz parte integrante do nome.

للأصدقائي العرب: في البرتغال مدن كثيرة التي أسماؤها الزاوية

domingo, março 06, 2011

Vitórias Sportinguistas, vitórias contra a xenofobia

No dia em que a equipa do futebol do Sporting voltou a vencer ao fim de muito tempo, mais dois grandes resultados sportinguistas, no atletismo: Naide Gomes e Obikwelu (sobre estes dois nacionalizados ninguém se queixa - e ainda bem - de representarem Portugal: tivessem eles nascido no Brasil, não faltariam os salazarengos anti-brasileiros do costume).

quinta-feira, março 03, 2011

A carroça e o Ferrari (volto à carga)

Resolvidos os problemas do portátil novo, configurei-o à minha medida. Instalei Linux (Ubuntu 10.10) ao lado do Windows 7, que vem de raiz. Não resisti a fazer mais uma corrida entre os dois sistemas, a ver se o Windows melhorou os anteriores e vergonhosos resultados. Ingenuidade a minha.

Os testes foram feitos com o computador a funcionar com a bateria.

A primeira corrida é a mais simples: quanto demora cada um a iniciar? Vitória esperada e retumbante do Linux, que demora apenas 38 segundos a ficar operacional, incluindo a introdução da password.
O Windows 7 demora, com a introdução da mesma password, quase o dobro do tempo: 68 segundos.

A segunda corrida consiste na abertura do Firefox (mesma versão em ambos os sistemas) pela primeira vez. Nova goleada: o Windows 7 precisa de 35 segundos para abrir; a partir daí demora 4.
O Linux demora apenas 5 segundos para abrir pela primeira vez - ou seja, 7 vezes menos tempo. A partir daí demora apenas 2 segundos - metade do equivalente em Windows 7.

A terceira corrida consiste na abertura do  processador de texto do OpenOffice (mesma versão em ambos os sistemas). O Windows 7 precisa de 18 segundos para o abrir pela primeira vez. A segunda vez precisa de 3 segundos.
Já o Linux demora 11 segundos para abrir pela primeira vez, e 3 nas subsequentes. Resultado mais equilibrado, ainda assim vantagem para o Linux.

A quarta corrida consiste no fecho do sistema. O Windows 7 precisa de uns inacreditáveis 27 segundos. O Linux faz o mesmo em 5 segundos.

Veredicto final: vitória retumbante, esmagadora do Linux, que faz o mesmo incomparavelmente mais depressa. E sem crash nem vírus. Ah, e é gratuito.

terça-feira, março 01, 2011

Linux vs. Windows (volto à carga)

Eu sou do tempo em que se dizia que o Linux era muito complicado, que era um problema com a instalação de hardware, e outras cousas do tipo, algumas das quais eram verdade há 15-20 anos. Como deixei de usar windows regularmente há uns 15 anos, fui ficando desactualizado, no que a esse sistema operativo PAGO diz respeito. Sempre que o tenho de usar, no entanto, fico com uma pilha de nervos para o resto da semana.

Nada disto é novo, toda a gente que já usou os dois sistemas sabe que o windows está para Linux como uma carroça para um ferrari.

Hoje comprei um netbook com Windows 7 instalado (queria ver se era só no aspecto que era uma cópia descarada do Linux). Queria também ver se a lentidão que verificava nos computadores com Windows 7 que conhecia era mesmo sistémica. Assim que liguei, crash. Nova tentativa. Crash. Outra. Crash. Mais outra. Crash. Às vezes nem liga. Fica ali de ecran negro e nada. Ao fim de algumas horas de tentativas infrutíferas (comprado às 13:00, primeira vez que consegui abrir sem crash foi há pouco) lá consegui. Mas demora vários minutos até ligar mesmo e ficar operacional, como de resto já tinha observado em outros computadores com este Windows 7\. Espetei-lhe uma pen. Não reconhece. Tenta instalar não sei o quê. Falha. O mesmo que já tinha verificado em vários outros computadores com windows: mesmo quando acabam por reconhecer, primeiro têm de instslar cousas estranhas. Com Linux é só prantar a pen e já está.

Para mim chega. Meu bom velho Linux, fiável, sem crash, sem vírus, rápido, eficaz!

terça-feira, fevereiro 22, 2011

Da elocução

Já tinha acontecido há uns anos, e até já contei algumas vezes. Na altura estava na praia a ler um volume de contos de Dostoiévski (tinha muito mais graça se fosse o "Crime e Castigo", mas não era), e umas miúdas que teriam uns 4 ou 5 anos interromperam a brincadeira e vieram pedir-me que lhes lesse "essa história". Embasbaquei uns segundos, mas lá me decidi, e pus-me a ler Dostoiévski às miúdas. Ao fim de menos de um minuto já elas voltavam à brincadeira, e eu calei-me, para prosseguir a "minha" leitura. Elas, no entanto, voltaram-se ao mesmo tempo, e berraram "continua" (ou "não pares", não me lembro bem).

Ontem não era Dostoiévski, mas a Vida de Rómulo, de Plutarco. O Manuel (4 anos), que até então estava entretido ao colo da mãe, pediu-me que lhe lesse "essa história". Eu obedeci, e durante alguns minutos lá lhe li as malfeitorias do fundador de Roma. Passado um pouco, quis ir ouvir pela enésima vez o "Pedro e o Lobo", do Prokófiev, mas às tantas, salvo erro quando o gato perseguia o passarinho, pediu-me para lhe ler de novo "a história do Rómulo".

Como nem me parece que as miúdas entendessem a prosa russa oitocentista, nem que o Manuel seja muito sensível à historiografia grega do séc. I d.C., a única moral que posso tirar daqui é que se calhar ando a perder tempo quando tento escolher com o máximo rigor os livros infantis para oferecer aos miúdos. Parece que lhes interessa sobretudo ouvir, não importa o quê.



sábado, fevereiro 19, 2011

Livros cá de casa . VII


"Codling, snakelet, iciclist! My diaper has more life to it! Who drowned you in drears, man, or are you pillale with ink?"

quinta-feira, fevereiro 17, 2011

Livros cá de casa . VI


Um daqueles que só podem ser lidos no original. O que se perde em uma ou oura frase menos bem entendida ganha-se na sonoridade do todo, impossível de reproduzir na tradução.

quarta-feira, fevereiro 16, 2011

Quid suauius?

O Manuel (4 a.) e a Carolina (5 a.) discutem no carro o final de "O Pedro e o Lobo", narrado pela Eunice Muñoz e dirigido pelo Álvaro Cassuto. Dizem em coro que o avô, no fim, vai a "pensar para os seus botões". Eu pergunto o que estava ele a pensar. A resposta veio em tom, assim tipo "duhh!!!!": "estava a ver que tinha os botões desapertados!". Claro.

O traidor e o peseteiro

Dias Ferreira apresenta o Futre como "exemplo de mística sportinguista", e diz que tem o apoio do Figo. Ou seja, para o sr. Dias Ferreira a mística sportinguista consiste em trair o clube e sair em conflito para um rival, no primeiro caso, e comemorar os golos adversários contra o Sporting, como o segundo.

Livros cá de casa . V

Número 1, edição original. Comprado a custo num alfarrabista alemão do Bairro Alto, nos anos 90. Não mo queria vender, "porrrque na lôja encontrrra edições moderrrnas de melhorrr qualidade". Depois de muito implorar, aceitou vender-mo, por 200$ (1 euro, mais cousa menos cousa), porque era o preço mínimo que fazia. Vim de lá carregado de edições originais, perante o olhar comiserado do alemão, incapaz de perceber que não era bem o texto que me interessava, eu que até tinha edições "moderrrrnas" das Farpas em casa.

Livros cá de casa . IV

Recolhidos, na década de 90, em alfarrabistas de Lisboa.

terça-feira, fevereiro 15, 2011

Curiosidades

Há cousas curiosas. Quando o benfica, que neste século ainda só conseguiu ficar à frente do Sporting 4 vezes (já a contar com esta época), esteve dois anos seguidos sem sequer se qualificar para as provas da UEFA e andou a penar pelo 6.º lugar; quando, nos últimos anos, andou invariavelmente entre o 3.º e o 4.º lugar, sempre atrás do Sporting e do Porto, e sempre a olhar mais para baixo do que para cima, nunca se traçaram os cenários apocalípticos que agora se traçam em relação ao Sporting, que, após 4 anos seguidos a garantir o 2.º lugar, em dois deles a lutar até ao fim pelo título, de facto faz dois anos maus - mas menos maus do que os referidos do benfica. Claro que é preocupante ficar dois anos seguidos atrás do benfica, o que ainda não tinha acontecido este século. Mas não exageremos.

segunda-feira, fevereiro 14, 2011

Monteverdi: Pur ti miro


Claudio Monteverdi, Pur ti miro
Nuria Rial, Philippe Jaroussky, Christina Pluhar
l'Arpeggiata

Das indecisões

Quando decidi passar para mp3 toda a minha discotheca, a ideia era facilitar-me a vida quando se trata de escolher a música para prantar no leitor de ditos cujos. Contudo, perante 229 pastas, verifico que não só continuo sem me conseguir lembrar de toda a música que tenho, como escolher se tornou ainda mais difícil.

Winblows

Porque é que uma porcaria de uma pen quando se usa pela primeira vez em Linux funciona logo, mas quando se usa pela primeira vez em windows tem de ser reconhecida, instalada e às vezes até se tem de reiniciar o pc? A lenda urbana, segundo a qual o Linux é uma cousa muito complicada, não diz que devia ser ao contrário? E no entanto eu das raras vezes que, como agora, uso windows fico numa pilha de nervos, porque nada funciona à primeira, e quando funciona demora o dobro ou o triplo do tempo!

domingo, fevereiro 13, 2011

Livros cá de casa . III

Da xenofobia

O Público diz que a "Judoca portuguesa Yahima Ramirez conquista bronze". No meio do texto, explica que é de ascendência cubana. Há dias noticiava-se que "o nadador olímpico português Arseniy Lavrentyev" teve um desempenho medíocre numa qualquer prova.

Por mim tudo bem. Ao contrário dos fascistas e nazis que advogam a pureza de sangue para alguém ser português, e que portanto relincham contra o Deco, o Pepe ou o Liédson (mas não contra o Bosingwa ou o Danny, que mal falam português, e também nasceram no estrangeiro), para mim qualquer pessoa com nacionalidade portuguesa pode representar as federações desportivas nacionais. Para mim o Deco é tão português como eu. Ou então voltamos a dividir os portadores de nacionalidade portuguesa em cidadãos de primeira e cidadãos de segunda?

Acho é curioso as tiradas nazis terem como alvo exclusivamente os nacionalizados brasileiros. Porque contra os nacionalizados cubanos ou ucranianos parece não haver nada (e ainda bem, sublinhe-se). O que só parece confirmar que o problema dos racistas xenófobos de serviço é exclusivamente contra os brasileiros.