quarta-feira, março 19, 2008

Cinco anos


Cinco longos anos depois da invasão e destruição do Iraque, urge fazer um pequeno balanço (deixo os grandes para os mais avisados). Em 2003 o Iraque era uma ditadura feroz, laica para os padrões da zona, e um dos maiores produtores de petróleo do mundo. A invasão foi orquestrada no pressuposto falso, como toda a gente sabia mesmo antes de os próprios invasores o admitirem, de umas famosas armas de destruição que nunca foram vistas por ninguém, a começar pelos inspectores da ONU que por lá andaram anos a fio. As vítimas mortais, além dos perseguidos pelo tirano Saddam, eram as que morriam graças ao embargo internacional. Não há provas que apontem para uma presença da al-Qa'ida (*) no território até ao início da guerra. Pelo contrário, como tanta gente disse e screveu na época, a rivalidade entre Saddam e essa nebulosa organização era notória.

Hoje, cinco anos depois, o que temos? Acabou-se com a ditadura de Saddam. Em contrapartida o país está na prática em guerra civil; morrem dezenas por dia em confrontos e atentados; o radicalismo religioso cresce assustadoramente; a al-Qá'ida finalmente entrou em território, livre de controle estatal; o radicalismo alastrou, em resposta à agressão, aos outros países da região - o Irão, que até então caminhava rapidamente para uma abertura do regime, liderado por liberais, rapidamente inflectiu para o radicalismo, com a vitória eleitoral de Ahmadinejad; os iraquianos vivem hoje, é incontestável, muito pior do que antes de os americanos lhes terem destruído as infra-estruturas e matado os amigos e familiares.

Ainda se disséssemos que todos fomos enganados, que tudo indicava para a existência das tais armas fabulosas... mas não. Toda a gente informada sabia. Aquilo que aqui escrevi muita gente previu, disse e screveu antes da invasão. Não era preciso ser bruxo. Bastava ter dois dedos de testa.

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(*) A grafia "Al-Qaeda" é provincianamente imitadora da fonética inglesa, em árabe diz "al-Qá'ida", é um trissílabo, descontando o artigo "al-": qa-'i-da. Não se pede aos jornalistas portugueses que saibam árabe (embora não lhes fizesse mal nenhum, a mim não tem feito), mas ao menos investigassem, em vez de copiarem servilmente. A grafia aportuguesa mais correcta é "alcaida".

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