domingo, março 23, 2008

Este ano não!

Todos os anos sou apanhado de surpresa, e só quando vejo na televisão o Algarve apinhado de gente muito apertadinha - ainda dizem que Gaza tem a maior concentração de habitantes por km2: claramente nunca foram a Albufeira ou outras terras com nome tão ou mais árabe do que Gaza, por altura da Páscoa - é que me lembro. Depois percebo a súbita e saborosa desertificação, e dou graças aos céus, em Latim e em Árabe, por estar imune a este delírio nacional que faz com que milhões saiam de casa na Sexta, depois de terem passado parte da Quinta aos gritos a prepararem tudo, passem a Sexta em viagem e a acomodarem-se, gozem o Sábado frio e chuvoso em algum centro comercial, e regressem Domingo à tarde, com a habitual sessão de gritaria com os miúdos enquanto arranjam a bagagem, para amanhã estarem de novo no trabalho. A mim sabem-me tão bem estes dias completos e descansados, sem viagens nem canseiras... Claro que o pessoal agora tem a vida mais facilitada, desde que abriu a A2. Já não lhes acontece como à senhora mal disposta que, há uns anos, num daqueles directos de Telejornal sem qualquer justificação que não encher horário à falta de notícias a sério, rosnava que tinha passado a Sexta em viagem, tinha chegado ao Algarve à noite, tinha passado o Sábado em casa a fugir da chuva, e depois tinha saído Domingo de regresso à casa, processo em que, no decorrer do Telejornal, ainda estava com aspecto imperfeito. Agora a canseira resume-se a algumas horas para lá e mais algumas para cá, sempre dá para o fim de tarde de Sexta e a manhã de Domingo. Mas dizia eu que todos os anos sou apanhado de surpresa. É verdade. Todos os anos quando olho para as notícias e vejo os desfiles do Ku Klux Klan em Espanha dou uma palmadinha na testa e digo "Eh pá, é Páscoa!". Se vou a tempo ainda ligo algum canal de TV nacional (não sem antes respirar fundo, não estu habituado), para ter aquelas sensações do tempo da infância. Sabes. Como quando se sente um cheiro ou se ouve uma voz que nos faz lembrar acontecimentos de quando éramos pequeninos. Neste caso não são meras reminiscências: os filmes que passam nos canais são de facto os mesmos do tempo da minha infância, nos anos 70 e 80 do século passado. Ora queixava-me eu de que todos os anos era apanhado de surpresa. Mas este ano não! Farto de palmadinhas na testa, este ano decidi antecipar-me: comprei as prendas todas com várias semanas de antecedência!

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